domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mémória do Futebol Cearense - O dia em que Ceará e Fortaleza se uniram.


Conheça a história do único dia em que Ceará e Fortaleza estiveram do mesmo lado do campo. Em 1982, as equipes se juntaram para enfrentar o Flamengo, então campeão mundial. E o combinado cearense venceu, por 2 a 0, em noite de Castelão lotado.

Quase 50 mil pessoas foram ao estádio Castelão para ver o combinado de Ceará e Fortaleza (direita) vencer o todo-poderoso Flamengo (esquerda), então campeão mundial, dos craques Zico e Júnior (Foto: Evilázio Bezerra/Fotoreprodução Leocácio Ferreira)

O jogo foi numa quinta-feira à noite, 2 de setembro de 1982. Às 21h30min, a bola rolou para o combinado de Ceará e Fortaleza enfrentar e vencer o todo-poderoso Flamengo de Zico, campeão mundial, por 2 a 0. Em promoção da Federação Cearense de Futebol (FCF), os melhores jogadores dos dois principais clubes do Estado se reuniram para este amistoso com pinta de clássico do Campeonato Brasileiro. ``O Flamengo era considerado o melhor time do Brasil. Por isso, a gente se sentiu muito motivado``, conta Josué, ponta-direita na partida histórica e atualmente técnico do Tiradentes.

E diferente do que poderia se imaginar atualmente, alvinegros e tricolores frequentaram a mesma arquibancada e, juntos, vibraram pelo mesmo time. União bem distante nos dias de hoje, quando os confrontos espantam os torcedores que não fazem parte das torcidas organizadas. A tranquilidade na época era tão grande que até ônibus extras foram disponibilizados naquela noite. Ao total, um total de 126 fez o transporte do público.

O presidente da comissão de arbitragem da FCF e árbitro no amistoso, Leandro Serpa, lembra que pouco se via manifestações de violência nos estádios. ``O pessoal caminhava de braços dados na rua``. Naquela partida, até em campo, os jogadores se respeitaram. ``Foi muito tranquilo apitar. No final, ninguém reclamou``, ressalta Serpa. O ex-meia do Flamengo e técnico do time master do Mengão, Adílio, relembra que foi um jogo de muita festa. ``Fomos tratados com muito carinho. Não lembro de ter visto nenhum resquício de violência, nem dentro nem fora de campo``.

A lembrança não muda quando o preparador de goleiros do Fortaleza, Salvino, conta como foi a chegada dos torcedores ao jogo. ``Foram torcedores por causa da gente. Mas muitos para ver o Flamengo. Todos torcendo em paz``. O coronel Joseneas Barroso, presidente da FCF à época, também destaca o clima de tranquilidade e a união das duas torcidas. ``Não teve incidente. Nada dessas coisas de confusão, típicas de hoje. As duas torcidas se respeitavam``.

Hoje, quase 28 anos após esta partida histórica, a realidade nos estádios do futebol cearense é bem outra. Seja em Clássico-Rei ou em jogos de menor porte, a violência entre torcedores se tornou ação corriqueira. Atitudes que poderiam ser abandonadas no futebol. ``Para se ter ideia, tinha muita criança e mulher no estádio. As pessoas iam pra torcer. Hoje, a gente vê eles (torcedores) marcando briga até pela Internet``, finalizou Josué.


O Flamengo começou melhor e teve três chances claras de marcar antes de sofrer o primeiro gol. Mas, aos poucos, o time cearense começou a se impor e dominou as ações ofensivas. ``Sabíamos que o Flamengo vinha de uma maratona de jogos, então aproveitamos nosso preparo físico``, conta Salvino.

O primeiro gol saiu dos pés de Ademir Patrício, batendo forte na saída de Cantarelli após belo passe de Zé Eduardo, aos 14 minutos do primeiro. O segundo gol veio aos 32 minutos da etapa final com Adílton, após passe de Alves. ``Foi um jogo importante para a gente. O Flamengo era o melhor do mundo``, garante Josué.

No final, Zico admitiu que os cearenses jogaram melhor. ``Não fomos bem. O time deles se saiu bem melhor``. Leandro Serpa, árbitro da partida, lembra bem. "Eu diria que fiquei surpreso. O Flamengo, que era campeão do mundo, admitiu a derrota".


AMISTOSO

COMBINADO 2 - Lulinha (Salvino); João Carlos, Lula, Pedro Basílio e Clésio; Alves, Nelson (Jorge Luís Albuquerque) e Zé Eduardo; Geraldino Saravá (Josué), Ademir Patrício (Assis Paraíba) e Ramon (Adílton). Técnicos: Sérgio Rêdes e Moésio Gomes

FLAMENGO 0 - Cantarelli; Antunes, Mazinho, Mozer (Nunes) e Júnior (Ademar); Andrade (Pompéia), Adílio e Zico; Lico, Tita e Victor. Técnico: Paulo César Carpegianni

Local: Estádio Castelão

Data: 2/9/1982

Horário: 21h30min

Árbitro: Leandro Serpa

Assistentes: Luiz Vieira Vila Nova e Emanuel Gurgel

Renda: Cr$ 19.002.900

Público: 46.680 pagantes

Gols: Ademir Patrício (14min 1ºT) e Adílton (32min 2ºT), para o combinado Ceará/Fortaleza

Cartão amarelo: Mazinho (Flamengo)


QUEM ERA QUEM
Do elenco que disputou o amistoso, eram oito jogadores do Ceará e oito do Fortaleza. Moésio Gomes (Fortaleza) e Sérgio Rêdes (Ceará), hoje colunista do O POVO, comandaram o time cearense.

CEARÁ
Lulinha
João Carlos
Lula
Alves
Jorge Luís Albuquerque
Josué
Ademir Patrício
Ramon

FORTALEZA
Salvino
Pedro Basílio
Clésio
Nelson
Zé Eduardo
Geraldino Saravá
Assis Paraíba
Adílton


EMAIS

- Logo após o amistoso com o Flamengo, a FCF pensou em trazer o Vasco da Gama. Mas não deu. Contudo, Joseneas Barroso relembra que quase trouxe a seleção russa. ``Eles estavam jogando na América do Sul e só não vieram por falta de datas``.

- O Flamengo acabara de vencer o Fluminense pelo Estadual do Rio, no domingo, dia 29 de agosto, com três gols no primeiro tempo. Um torcedor tricolor invadiu o campo e pediu piedade.

- Nos anos 50, o Flamengo já havia enfrentado duas vezes um combinado cearense. Em 14 de junho de 1959, 3x1 contra o mistão de Fortaleza e América. No dia 17, goleada por 6x0 no Combinado de Nacional, Calouros do Ar, Ceará, Ferroviário e Usina Ceará.

- O Rubro-Negro aproveitou para acertar o empréstimo do meia leonino Viegas, então com 20 anos.

Como foi o jogo

Fonte: Jornal O Povo