segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Memória do Futebol Cearense - Ceará Vice-campeão da Copa do Brasil


O placar do Castelão marca 0x0, resultado do primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 1994 (Foto: Stênio Saraiva/Arquivo)

O vice da Copa do Brasil de 1994, até hoje a maior conquista do Ceará em âmbito nacional, completou 15 anos em 10/08/2009.

A data é um misto de alegria e tristeza para a galera do Alvinegro. Por um lado, o time de Porangabuçu decidiu a segunda maior competição nacional e garantiu vaga na disputa da Conmebol, torneio Sul-Americano que não mais existe — deu lugar à Copa Sul-Americana. Por outro, jamais esqueceu um lance polêmico, que poderia ter mudado a história: um pênalti não marcado pelo árbitro paulista Oscar Roberto de Godoy sofrido por Sérgio Alves pôs fim ao sonho de uma equipe, que contava com quatro cearenses entre os titulares, ser campeão do Brasil.
O Ceará iniciou a campanha um tanto descrente. Na primeira fase, venceu o Campinense por 2x0 no Estádio Presidente Vargas. Porém, mesmo se classificando, perdeu a partida de volta por 2x1, no Amigão.

Arrancada
A desconfiança após esse revés foi logo desfeita nas fases seguintes. O Alvinegro, pela ordem, eliminou, sempre fora de casa, bem longe da sua torcida, o Palmeiras de Vanderley Luxemburgo, em pleno Parque Antártica, o Internacional, no Beira-Rio, e o Linhares, no Guilherme Carvalho, até chegar às finais diante do Grêmio de Luiz Felipe Scolari, no Olímpico, onde perdeu o título.

Castelão lotado

O time comandado por Dimas Filgueiras que contava, dentre outros, com os cearenses Ivanoé, Ronaldo Salviano, Airton, Claudemésio, Ivanildo e Jaime, desperdiçou a chance do título no jogo de ida contra o Grêmio, ao perder inúmeras chances de gol. Na ocasião, o Castelão recebeu um público pagante oficial de 53.915. Entretanto, duas horas antes do jogo, em comum acordo, a Federação Cearense de Futebol (FCF) e a Polícia Militar (PM), ´para evitar uma catástrofe´, mandou abrir os portões, já que não tinha como dar vazão à entrada dos torcedores e, assim, milhares entraram sem pagar. Vale lembrar que o Castelão, com sua capacidade anterior, estava completamente repleto.

POR ONDE ANDAM

Protagonistas seguiram diversos caminhos



Ex-goleiro Chico, hoje, é gerente de futebol do Ferroviário (Foto: Kiko Silva)

À exceção de Sérgio Alves, os demais atletas que disputaram a Copa do Brasil de 1994 seguiram outras profissões. O goleiro Chico é gerente de futebol do Ferroviário. O zagueiro Airton e o volante Ivanildo são funcionários de uma empresa de segurança e disputam no mesmo time o campeonato de futebol da categoria. Mastrillo e Vitor Hugo são treinadores de futebol. Ronaldo Salviano é funcionário da Cagece e bandeirinha. Claudemésio é mototaxista; Jaime é funcionário do Guarany, e Catatau microempresário em Campinas/SP.

VILÃO

Apesar das evidências, Godoy nega pênalti ocorrido


O ex-árbitro Oscar Roberto de Godoy, que impediu, com um grave erro de arbitragem, a conquista do Ceará, num programa televisivo apresentado pelo jornalista Milton Neves, do qual participou Sérgio Alves, na época, vestindo a camisa do Guarani/SP, negou que tenha existido a penalidade. Todos os presentes ao programa foram unânimes, após analisar o lance várias vezes, em afirmar o contrário.
Em março de 2002, na reinauguração do Castelão, Godoy esteve em Fortaleza na condição de comentarista de arbitragem, sua atual profissão, e, em conversa informal com o jornalista Luís Carlos de Freitas, reafirmou que não houve pênalti no lance.

PÊNALTI SOFRIDO

Sérgio Alves conta como foi lance decisivo



Atacante alvinegro é hoje um dos ídolos da torcida alvinegra (Foto: Rodrigo Carvalho)

Para a torcida do Ceará Sporting, não foi o gol de Nildo, que depois vestiria a camisa do Vozão, o lance que decidiu a Copa do Brasil, e sim o pênalti sofrido por Sérgio Alves, aos 31 minutos do segundo tempo. Quem conta como aconteceu a jogada é o próprio jogador, de 40 anos (incompletos) que, desde o ano passado, retornou a Porangabuçu.

´O único detalhe que não me lembro muito bem foi quem lançou a bola, se o Jerônimo ou o Catatau. Recebi em condição de marcar. O zagueiro Paulão vinha em desvantagem e teve que me calçar. Tinha convicção de 99% de que faria o gol. Porém, ouvi o apito do Godoy. A princípio, fiquei tranqüilo, pois imaginava que ele tinha marcado o pênalti que todo mundo viu. No entanto, ele deu tiro de meta para o Grêmio´.

Revolta e expulsão

Sérgio Alves explica que, em seguida, partiu na direção de Godoy para tomar satisfação. ´No caminho ele foi logo me apresentando o cartão amarelo. Como tinha certeza do pênalti, prossegui e lhe dei uma peitada. Então, ele me expulsou´. Para o Carrasco, Oscar Roberto de Godoy ´colocou na balança toda a situação e optou por não assinalar a falta de Paulão. Se o jogo tivesse acontecido aqui, ele teria marcado, pois sabia que não deixaria o Castelão´, garante. Para Sérgio Alves, o lance frustrou não só a ele como a todos os jogadores. ´Perdemos o título por causa de um erro e não por falta de capacidade´.

ELENCO CASEIRO

Dimas lançou vários pratas da casa no time


O elenco do Ceará contava com alguns jogadores experientes, como o goleiro Chico, hoje funcionário do Ferroviário, Mastrilo e Vitor Hugo, que são treinadores, e Catatau, que se destacou em várias equipes do futebol nacional. Mas, tinha muitos jovens valores da terra, todos lançados por Dimas Filgueiras Filho, o vitorioso treinador do Vozão na campanha da Copa do Brasil.

´Formamos um time com muitos pratas da casa, como Ronaldo, Airton, Jaime, Ivanildo e Claudemésio. Ninguém acreditava, mas, aos poucos, o time foi crescendo e se tornou a sensação da competição´, relata Dimas Filgueiras.

Retranca de araque

Interessante é que Dimas Filgueiras ganhou fama de retranqueiro. Todavia, o seu time, na verdade, era dos mais ofensivos, contando só com dois volantes — Mastrillo e Ivanildo—, um meia —Elói— e três atacantes: Catatau, Jerôniomo e Sérgio Alves. ´As pessoas confundiam as coisas. A nossa estratégia era jogar com o regulamento debaixo do braço. Aqui em Fortaleza, tínhamos uma postura. Lá fora, ficávamos esperando para dar o bote na hora precisa. Foi assim que eliminamos o Internacional, o Palmeiras e o Linhares, que não conseguimos bater dentro de casa´.

Por pouco


Dimas Filgueiras montou o time que conquistou o vice-campeonato (Foto: Tuno Vieira)

Para Dimas, a estratégia montada para vencer o Grêmio no Olímpico foi correta. ´Infelizmente, o Godoy atrapalhou tudo´.

CAMPANHA

1ª fase

22/02 Ceará 2x0 Campinense

25/03 Campinense 2x1 Ceará


Oitavas-de-final

18/05 Ceará 0x0 Palmeiras

29/05 Palmeiras 1x1 Ceará


Quartas-de-final

05/06 Ceará 1x0 Inter/RS

08/06 Inter/RS 2x1 Ceará


Semifinais

23/06 Ceará 0x0 Linhares/ES

24/07 Linhares/ES 0x1 Ceará


Finais

07/08 Ceará 0x0 Grêmio

10/08 Grêmio 1x0 Ceará

FICHA TÉCNICA

Grêmio 1 X 0 Ceará


GRÊMIO-Danrlei; Ayupe, Paulão, Agnaldo e Roger; Pingo, Jamir, Émerson e Carlos Miguel (Wallace); Fabinho e Nildo (Carlinhos).

Técnico: Luiz Felipe Scolari.

CEARÁ-Chico; Ronaldo, Airton, Vitor Hugo e Claudemésio; Mastrillo, Ivanildo e Elói; Catatau, Jerônimo e Sérgio Alves.

Técnico: Dimas Filgueiras.

Competição - Copa do Brasil.

Estádio - Olímpico. Data - 10 de agosto de 1994. Árbitro - Oscar Roberto de Godoy. Público - 49.263 pagantes. Gol - Nildo, aos 3 min do 1º tempo. Cartões Amarelos - Chico, Ronaldo, Airton, Mastrillo, Vitor Hugo, Catatau, Ivanildo, Carlos Miguel e Agnaldo. Cartões Vermelhos - Sérgio Alves e Vitor Hugo.

ONDE ANDA

> Chico (goleiro) - Atualmente trabalha como auxiliar-técnico do Ferroviário

> Ivanoé (goleiro) - Abandonou o futebol em 2006 e hoje mora em Quixadá

> Airton (zagueiro) - Trabalha como segurança e disputa campeonatos de subúrbio

> Aldemir (zagueiro) - É gerente do Ferroviário

> Ronaldo Salviano (volante) - Era árbitro e agora treina o Maguary

> Ivanildo (meia) - Mora em Fortaleza

> Roberto Carlos - (lateral ) - Supervisor do Horizonte

> Jaime (lateral) - Atua como amador, em Sobral

> Zé Ricardo (meia) - Mora no Rio de Janeiro

> Malhado (lateral) - Reside em Recife

> Claudemir (atacante) - É frentista na Capital

> Elói (meia) - Mora no Rio de Janeiro

> Claudemésio (lateral) - É de mototaxista em Fortaleza

> Da Silva (zagueiro) - Disputou a 3ª Divisão estadual pelo São Benedito

> Vitor Hugo (zagueiro) - Atua como técnico de futebol

> Sérgio Alves (atacante) - Continua no clube.Tem 39 anos

> Mastrillo (volante) - Treina o River do Paiuí

> Gerônimo (atacante) - Mora em Maceió (AL)

> Catatau (atacante) - Tem uma fábrica de papelão, em Campinas (SP).

> Nonato (atacante) - Falecido

> Dimas Filgueiras (treinador) - É funcionário do Ceará.

> Paradeiro desconhecido - Niltinho, Bizu, Ney e Rildo (atacantes), Renato Martins (lateral esquerdo), Eugênio (zagueiro) e Cafu (lateral)

Opinião do especialista

Imperdoável erro

Tom Barros


Jamais esquecerei a decisão da Copa do Brasil de 1994. Fui confiante a Porto Alegre narrar o jogo para a Verdinha. O Ceará tinha time para ganhar. Não contava, porém, a perturbação permanente da torcida do Grêmio. Próximo ao hotel, houve foguetório durante boa parte da noite. Objetivo: não deixar dormir o grupo alvinegro.
A caminho do Estádio Olímpico, vi que a pressão seria muito maior. Um mar azul, preto e branco pelas ruas que levavam ao cenário do jogo. A recomendação do técnico Dimas foi no sentido de o Vozão segurar os 15 primeiros minutos. Não deu: logo aos três, o gol gremista ( 1 a 0). Fiquei a imaginar como seria a reação do Ceará a partir dali. Sentiria o golpe ou o neutralizaria? Neutralizou. Pouco a pouco, o meia Elói foi colocando as coisas nos devidos lugares.
O equilíbrio predominou. O Ceará manteve a prudência, característica sua durante toda a campanha, mas não raro encaixava contra-ataques. No final do jogo, quando os gremistas já comemoravam, o lance polêmico. Sérgio Alves derrubado na área. Na minha opinião, pênalti claro. Na opinião do árbitro Roberto Godói, lance normal. Árbitro ´caseiro´, frouxo.
Pouco depois, Grêmio campeão. Teve seus méritos, claro. Mas restou nos cearenses a frustração da perda do título. Não pela falta de competência, mas pela forma como aconteceu: imperdoável erro da arbitragem. No último minuto, um pênalti com Sérgio Alves em campo seria o gol do título. Hoje, Godói posa de comentarista na televisão. No Brasil é assim...

* Colunista do Diário do Nordeste

Fontes: Jornais Diário do Nordeste e O Povo

domingo, 9 de agosto de 2009

Memória do Futebol Cearense - Pintado



Pintado quando concedeu última entrevista, em 2006. E nos tempos de goleiro do Ceará. Paixão pelo Alvinegro

O Ceará perdeu na madrugada de 02/08/2009 o mais antigo atleta da galeria de ídolos de Porangabuçu. Aos 94 anos, faleceu de infecção generalizada o ex-goleiro Adhemar Nunes Freire, o Pintado. O ex-atleta alvinegro foi sepultado com a bandeira do clube, no fim da tarde, no cemitério São João Batista, no Centro.

Nascido no mesmo ano da fundação do Ceará Sporting Club (1914), Pintado defendeu o Vovô entre as décadas de 30 e 40, sendo campeão em 31, 32 e 48, e sempre se orgulhou em ser torcedor alvinegro, mesmo quando se transferiu para o futebol carioca, onde defendeu Madureira e Botafogo - sagrou-se campeão carioca em 1935 pelo time de General Severiano. Professor de inglês, chegou a ocupar o cargo de diretor em algumas escolas de Fortaleza.

Recentemente, lutava contra o câncer e há três anos passou a sofrer do mal de Alzheimer. Segundo a família, a última entrevista de Pintado foi concedida ao O POVO, em 2006. O relato, inédito, é publicado hoje:

O POVO - O senhor chegou a jogar numa época em que ainda não havia o profissionalismo, que só veio na década de 1930. Naquela época, o futebol cearense era muito diferente de hoje?
Pintado - Era tudo muito amador. Não há mais futebol como naquela época. Você jogava porque gostava. Muitos atletas saíam dos colégios, como foi o meu caso. Jogava pelo time da escola (Marista Cearense), sempre como goleiro. Hoje, o futebol perdeu aquela graça, é tudo muito profissional, sério demais.

OP - O senhor recebia salários dos clubes?
Pintado - Eu recebia dinheiro para jogar. Não era como é hoje, mas dava para me manter.

OP - A maioria dos jogadores de hoje vem de famílias pobres. Como era antigamente?
Pintado - Os jogadores vinham de origem variada, mas havia muitos de classe alta. Estes vinham dos colégios. Os outros não, começavam a jogar na rua e depois passavam para os clubes.

OP - Qual o motivo do seu apelido?
Pintado - Me deram por causa das minhas sardas.

OP - O senhor chegou a jogar quando ainda nem existia o PV, inaugurado em 1941. Jogar no campo do Prado era muito diferente?
Pintado - No Prado era muito empoeirado. Antes do jogos, molhavam o campo com uma mangueira para que a gente pudesse jogar. Melhorava e não ficava lama não.

OP - Entre as décadas de 1930 e 1940 já havia a rivalidade entre Ceará e Fortaleza?
Pintado - O Maguary é que era o principal rival do Ceará até parar (em 1945, voltando depois entre os anos de 1972 e 1975 e neste ano). Era o mesmo que acontece hoje entre Ceará e Fortaleza. O Maguary era o time dos ricos e a rivalidade com o Ceará, que era popular.

OP - Mas chegava a haver brigas ou algo próximo disso, como vemos hoje?
Pintado - Não. Havia desentendimentos, rixas, mas nada muito sério. De qualquer forma, a gente sempre evitava participar desses acontecimentos. A gente procurava manter uma certa distância daquilo que acontecia entre torcedores e dirigentes adversários.

OP - O senhor chegou a jogar fora do estado, no Rio de Janeiro. O futebol lá era mais avançado do que aqui?
Pintado - Eu fui para o Rio de Janeiro e joguei no Botafogo e no Madureira. O futebol, lá, era mais avançado, tinha muitos bons jogadores.

OP - O senhor torcia para algum clube?
Pintado - Eu sempre torci Botafogo. Aqui, sou Ceará.

OP - O senhor possui 91 anos (na entrevista realizada em 2006), sendo apenas três meses mais novo que o Ceará. Como é a sua relação com o clube, do qual é considerado um dos maiores jogadores da história?
Pintado - Nasci no ano que surgiu o Ceará: 1914. É muito bom saber que joguei no time que torço. Sempre gostei muito do Ceará e é um prazer fazer história nele.

OP - Impressiona o fato de que, observando suas fotos nas equipes do Ceará mesmo na década de 1930, o senhor mantém uma fisionomia muito próxima de quando ainda era jogador.
Pintado - Eu praticava outros esportes além de futebol, sempre gostei. Tem até uma história curiosa. Eu tinha uma casa na praia, próximo ao (Clube dos) Diários (encerrou suas atividades na avenida Beira Mar em 2003), e, uma vez, quando estava andando na areia, salvei a vida de um homem que vi se afogando. Sempre gostei de nadar, de praticar esportes.

OP - O senhor ainda acompanha futebol?
Pintado - Fui a estádios poucas vezes.

Fonter: Jornal O Povo

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Memória do Futebol Cearense - Calouros do Ar: o Tremendão da Aerolândia.



O Calouros do Ar foi fundado em 1º de janeiro de 1952. Até então o clube era apenas um despretensioso time de futebol, chamado América. Quando foi oficialmente fundado, mudou o nome para homenagear o conjunto musical da Base Aérea de Fortaleza e os aspirantes a oficial aviador que chegavam todo ano à cidade. Ascendeu à divisão principal da FCD em 1953, vindo, por uma dessas anomalias de nosso futebol, da terceira divisão.
Em 1954, quando o diretor do Ceará, Ivonísio Mosca de Carvalho, lutava para trazer o time do Botafogo, com todas as suas estrelas, para comemorar os 40 anos alvinegro (1914-1954).
Ocorre que, tanto no Rio como em Fortaleza, não havia datas disponíveis, pois os respectivos campeonatos estavam em pleno andamento, mas Ivonísio lutou e conseguiu uma brecha.
A programação ficou organizada. No dia 12 de junho o Botafogo faria sua estréia diante do Calouros, uma espécie de preliminar, num dia de sábado.
O Botafogo era dirigido pelo veterano Gentil Cardoso e a delegação ficou no Hotel Iracema, de propriedade do senhor Antônio Português, à rua dos Tabajaras. Não faltaram as reclamações, principalmente do ''velho marinheiro'' (Gentil Cardoso). Mas era o jeito. No centro só havia o Excelsior e parece que fechado. Savanah e San Pedro Hotel ainda não eram construídos e, na praia, a diária era mais barata.
Referido jogo entrou para a história: O Calouros do Ar venceu o Botafogo de Garrincha, por 1x0, com um gol marcado por Orlando Ciarlini aos 40 minutos do segundo tempo. No gol, o hoje empresário e ex-comodoro do Iate Clube de Fortaleza, Chico Martins, fez uma partida memorável, entrando para a história do futebol cearense. O goleiro pegou até pênalti, batido por Garrincha.
Eis a súmula de Calouros 1 x 0 Botafogo. Data: 12/6/1954 - Calouros do Ar 1 x 0 Botafogo. Estádio Presidente Vargas. Gol: Orlando Ciarlini (40 do 2º tempo). Juiz: José Tosta (F.C.D). Calouros do Ar: Chico Martins; Pedrinho e Azevêdo; Jandir, Helder (Zanata) e Índio; Luciano, Zezinho, Beto (Orlando Ciarlini) Nelsinho e Zuzinha. Botafogo: Pianoswisky; Gerson e Floriano, Arati, Bob e Juvenal; Garrincha, Dino, Carlyle, Paulinho e Vinícius.
No dia seguinte domingo o Ceará Sporting perdeu por 2 x 0.

O título de 55

No dia 11 de março de 1956, o Calouros do Ar conquistou aquele que é até hoje seu único título estadual, o Campeonato Cearense de 1955, derrotando o Ferroviário por 2 a 0, com gols dos atacantes Zezinho e Zuzinha, no estádio Presidente Vargas. Então com apenas quatro anos de fundação, o Calouros do Ar tinha uma equipe formada em sua maioria pelo efetivo da Base Aérea de Fortaleza, que mantinha o time e abrigava sua sede. Mais novo dentre os oito participantes do campeonato, o Tricolor da Base Aérea ou Tremendão da Aerolândia superou os tradicionais Ceará, Fortaleza e Ferroviário. Na final, contra o Ferrim, venceu a primeira partida (2 a 0), perdeu a segunda (3 a 0) e levou a melhor na decisiva.


Em pé, da esquerda para a direita: Edilson, Zezinho, Beto, Helder e Zuzinha; Agachados: Luciano, Jandir, Jesus, Pedrinho, Jairo e Coité

Na verdade, 1955 foi o ano de ouro do Calouros do Ar, que conquistou os três títulos disputados pelos clubes da divisão principal cearense, uma verdadeira “tríplice coroa”. Orientado pelo treinador Paulo Salgueiro, o clube papou o Torneio Preparatório, o Torneio Início e por último e mais importante, o campeonato estadual. Dizia-se que o segredo daquela equipe era sua homogeneidade, afinal era toda ela integrada por jovens cujas idades variavam entre 18 e 24 anos. Nenhum figurão no plantel. O curioso é que, durante todo o campeonato cearense de 1955 o Calouros do Ar utilizou apenas 13 atletas, o que significa dizer que jogou em todo o torneio quase que com a mesma equipe. O título do Calouros quebrou um encanto de anos, só comparado ao feito de um outro jovem clube, o Tramsways, que ganhou o campeonato de 1940.
O clube disputou os campeonatos cearenses de 1953 a 1968 e 1970 a 1998, conquistando o 3º lugar em 1953, 1956, 1960 e 1968. Em 1960, Juarez, atacante da equipe, foi artilheiro do campeonato cearense, com 14 gols. Em 1968, o artilheiro foi Célio, com 9 gols. Foi também 3ª colocado na 2ª divisão estadual em 1999 e 2003. Em âmbito nacional o Calouros do Ar chegou a disputar o Torneio Norte-Nordeste de 1968 e a 2ª Divisão brasileira em 1971 e 1972, sem conseguir passar da 1ª fase.
Em 2004, após péssima participação no estadual da Segunda Divisão, o Calouros do Ar foi rebaixado para a Terceira Divisão Estadual, onde se encontra até hoje.

Os dias de hoje:

Passado mais de meio século, a conquista memorável de 1955 contrasta com o péssimo momento vivido pelo time, mendigando apoio financeiro, à beira da falência e esquecido na Terceira Divisão Estadual. Sua diretoria sofre para manter a equipe em atividade. O quadro de sócios, que recebeu poucos integrantes nas últimas décadas, por causa da seqüência de maus resultados, resume-se a um grupo de cerca de 20 torcedores, a maioria presente apenas em ano de eleições no clube.
Na década de 60, uma partida entre o América, campeão de 1966, e Calouros do Ar, vencedor de 1955, levaria uma multidão ao estádio Presidente Vargas. Em 2009, porém, os times participaram da Série C do Campeonato Cearense. Infelizmente, em Fortaleza, o clube é hoje uma espécie de sinônimo de time ruim, com expressões do tipo “esses Calouros do Ar da vida…” Para completar o Calouros está suspenso até 2010 devido à suposta manipulação de resultado na derrota por 8 a 0 para o Tauá, no desfecho da terceira divisão de 2008.


Time do Calouros, década de 50. A partir da esquerda (em pé): Edílson Araújo, Zezinho, Beto, Elder e Zuzinha. Na mesma ordem (agachados): Luciano, jandir, Jesus, Coité, Jairo e Pedrinho. Fonte: Coluna Tom Barros – Jornal Diário do Nordeste

Títulos:
Campeão do Torneio Início Cearense: 1955, 1958, 1968, 1971
Campeão do Torneio Preparatório 1955
Campeão Cearense 1955

O elenco campeão de 1955:
- Jairo (goleiro), 23 anos;
- Pedrinho (zagueiro direito), 22 anos;
- Coité (zagueiro central), 21 anos;
- Luciano (médio direito), 22 anos;
- Jandir (centro médio), 23 anos;
- Jesus (médio esquerdo), 24 anos;
- Edílson (ponta direita), 18 anos;
- Zezinho (meia direita), 22 anos;
- Beto (centro avante), 23 anos;
- Helder (meia esquerda), 21 anos;
- Zuza (ponta esquerda), 28 anos;
- Azevedo (zagueiro), 25 anos;
- Vandir (avante), 20 anos;


Obs: Dos 13 integrantes do plantel, apenas 2 não eram cearenses: o gaúcho Jesus e o potiguar Jairo.


Ficha:
Calouros do Ar Futebol Clube
Endereço: Rua Aspirante Mendes, 875, Aerolândia, Fortaleza-CE
Uniforme: Camisa com listras verticais vermelhas, verdes e brancas, calção branco e meias brancas ou verdes.
Mascote: Tremendão da Aerolândia.
Estádio: Brigadeiro Médico José da Silva Porto (3 mil pessoas).

Campanha do Calouros do Ar em 1955

10.07.1955

CALOUROS DO AR 1-1 CEARÁ, em Fortaleza

31.07.1955

CALOUROS DO AR 0-0 FERROVIÁRIO, em Fortaleza

13.08.1955

CALOUROS DO AR 1-2 AMÉRICA, em Fortaleza

03.09.1955

CALOUROS DO AR 1-1 NACIONAL, em Fortaleza

10.09.1955

CALOUROS DO AR 2-2 FORTALEZA, em Fortaleza

17.09.1955

CALOUROS DO AR 1-0 USINA CEARÁ, em Fortaleza

25.09.1955

CALOUROS DO AR 4-0 GENTILÂNDIA, em Fortaleza

10.12.1955

CALOUROS DO AR 4-2 CEARÁ, em Fortaleza

17.12.1955

CALOUROS DO AR 3-0 FORTALEZA, em Fortaleza

25.12.1955

CALOUROS DO AR 2-2 FERROVIÁRIO, em Fortaleza

01.01.1956

CALOUROS DO AR 3-2 AMÉRICA, em Fortaleza

22.01.1956

CALOUROS DO AR 0-1 USINA CEARÁ, em Fortaleza

26.02.1956

CALOUROS DO AR 2-0 FERROVIÁRIO, em Fortaleza

04.03.1956

CALOUROS DO AR 0-3 FERROVIÁRIO, em Fortaleza

11.03.1956

CALOUROS DO AR 2-0 FERROVIÁRIO, em Fortaleza


15 JOGOS

07 VITÓRIAS

05 EMPATES

03 DERROTAS

26 GOLS MARCADOS

16 GOLS SOFRIDOS


Fontes: Wikipédia, RSSF Brasil e Arquivo de Clubes.com

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Memória do Futebol Cearense - Ferroviário, a fundação.



O FERROVIÁRIO ATLÉTICO CLUBE nasceu pela ação de empregados da Rede de Viação Cearense (RVC, depois Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima, RFFSA, atual Companhia Ferroviária do Nordeste, CFN).
Em 1930, a RVC instalou oficinas de manutenção de locomotivas, carros e vagões na então distante região do Urubu, precisamente onde hoje se encontra a sede da CFN, na Avenida Francisco Sá - tal logradouro corresponde à antiga Estrada do Urubu, no período importante via de comunicação com a então distante.Barra do Ceará, onde havia um hidroporto À época, Fortaleza restringia-se praticamente ao seu centro histórico. Naquela área ao longo dos anos concentrou-se toda uma população humilde, na maioria fugida da seca, fomes e latifundios do sertão. Não foi coincidência que no intuito de servir-se da mão-de-obra barata representada por essa população carente, instalaram-se na zona oeste da capital várias indústrias.
Com uma grande quantidade de tarefas e serviços para executar, em 1933 a direção da RVC determinou a realização de horas extras noturnas (das 18 às 20h) nas citadas oficinas do Urubu, visando assim recuperar mais locomotivas, carros e vagões. Encerrando-se o expediente normal às 16h25min, decidiram os operários mais jovens, sobretudo aqueles que moravam longe, aproveitarem o "intervalo forçado" para divertirem-se, passarem o tempo, jogarem foot-ball. Cotizaram o dinheiro para a compra de uma bola e armados de pás e enxadas, limparam um terreno vazio dentro das oficinas, tirando matos, arrancando tocos, nivelando-o. Para completar a construção do campo, confeccionaram traves a partir de tubos retirados de caldeiras de velhas locomotivas.
Daí em diante, no finalzinho da tarde, tornou-se sagrado o "racha" entre os operários nas oficinas do Urubu. Para maior deleite, improvisaram até dois times, "Matapastos" e "Jurubeba", nomes de ervas, uma "homenagem" irônica dos proletários aos matos que havia no terreno e que deram tanto trabalho na preparação do campo.
Com o sucesso das peladas veio a feliz idéia de organizar "algo maior”. Em reunião na casa do mecânico José Roque (o “gordo”) os boleiros da RVC decidiram unir Matapastos e Jurubeba parta formar um time de fato capaz de jogar pela periferia nos finais de semana e até participar de campeonatos suburbanos. Dentro do óbvio, a equipe recebeu o nome de FERROVIÁRIO – apenas FERROVIÁRIO -, por pouco não sendo chamado também de “ferrocarril”, a exemplo de outros clubes sul-americanos oriundos de companhias férreas. Escolheu-se ainda um uniforme com listas verticais cores vermelho, preto e branco, provavelmente inspiradas no Clube Atlhético Paulistano (antecessor do atual São Paulo Futebol Clube, fundado em 1935).
As "movimentações esportivas operárias" não passaram despercebidas a Valdemar Cabral Caracas, então influente chefe do escritório de manutenção da RVC e igualmente apaixonado por futebol. Este nascera no ano de 1907, em Pacoti-CE, e constituiu-se das mais destacadas personalidade da história desportiva cearense, fosse fundando clubes (como o Humaitá e o Damasco), fosse trabalhando como jornalista - foi o primeiro comentarista esportivo da PRE-9 (a Ceará Rádio Clube, pioneira da radiofusão no estado). Exerceu vários cargos na Federação e no Ferrim (inclusive de técnico campeão em 1945), sendo, como chegou a afirmar em depoimento, "pai, mãe, e educador" do Time, somente não ocupando o cargo de presidente por desejo pessoal.
Valdemar Caracas em suas próprias palavras, decidiu-se a transformar aquele “timezinho de operários" em "gente", ou seja, se dispôs a organizar melhor a equipe nas horas vagas que tivesse.
Reuniu os "atletas-trabalhadores" e, juntos, "refundaram" ou fundaram formalmente o Clube (em tal reunião, houve até ata lavrada em livro!), o qual recebeu o "nome completo" de FERROVIÁRIO FOOT-BALL CLUB, denominação alterada anos depois, por sugestão de Caracas, para FERROVIÁRIO ATLÉTICO CLUBE. Apesar de mantidas as cores, o time passou a usar camisa com várias listras horizontais (seu símbolo era asa branca dentro de uma roda de ferro) e depois, nos anos 1940, o uniforme principal que hoje ainda tem, outra idéia do chefe da RVC, inspirado no terno do São Paulo, equipe pela qual torcia - em depoimento ao autor, Valdemar Caracas disse que chegou a trazer do sudeste jogos de uniformes do clube paulista para uso do Ferroviário. O uniforme reserva apresentava camisas com listras verticais.
Mostrando mais uma vez sua influência, Caracas igualmente indicou o primeiro presidente, José Maciel, auxiliar de engenheiro da RVC indicaria muitos outros dirigentes corais, confessou em seu depoimento. Nascia assim, naquele 9 de maio de 1933, entre humildes empregados da RVC, o Ferroviário, para ser um dos orgulhos do futebol e povo cearense.
No ano seguinte o time já estava participando dos torneios da Liga Suburbana – seria inclusive campeão desta em 1937-, e com os êxitos obtidos, recebeu em 1938 convite da Associação Desportiva Cearense (ADC) para ingressar na primeira divisão do campeonato local. Valdemar Caracas contou que em várias oportunidades teve de "disciplinar" os jogadores, pois a equipe suburbana era useira e vezeira em "tomar o apito do árbitro” quando a decisão deste não lhe agradava.
A existência de "clubes-operários" como o Ferroviário não era tão excepcional assim no país, porém fruto da já mencionada popularização do foot-ball e expansão do capitalismo. Há igualmente os conhecidos casos do Bangu no Rio de Janeiro (1904), Juventus em São Paulo (1924) e, aqui mesmo no Ceará, do Tramways (fundado também em 1933, ligado a The Ceará Tramways Light, empresa inglesa fomecedora de luz, força, bondes e ônibus da capital), Nacional (de 1942, time dos funcionários dos Correios) e Usina Ceará (de 1949, vinculado à Fábrica Siqueira Gurgel).
Atestam os historiadores do futebol brasileiro que em decorrência dos resultado obtidos, geralmente os “jogadores-operários” conseguiam nas empresas certas regalias e facilidades, como horários flexíveis, serviços mais leves etc, na intenção de se dedicarem às atividades esportivas. Eram nitidamente protegidos pela diretoria, podendo de maneira mais fácil obterem promoções, melhores salários ou, no mínimo, a garantia da permanência no emprego. Formava-se, assim, uma verdadeira "elite operária". Apesar de Caracas em seu depoimento negar que houvesse alguma regalia aos "jogadores-operários" do Ferroviário, acabou relatando que os atletas eram comumente liberados da labuta para treinar (nos anos 40, o time treinava apenas duas vezes por semana, um treino físico, geralmente na praia, e outro técnico, chamado de "conjunto") e que prezavam da amizade pessoal do poderoso chefe do escritório de manutenção da RVC - como chegou a dizer o escritor Eduardo Campos, na Rede de Viação, até o trem apitava como Valdemar Caracas queria! Outro entrevistado, porém, o ex-dirigente coral Hamilton Pereira, confirmou a existência de regalias dos jogadores na década de 1950.
Luta de classe à parte o gostoso futebol cearense não seria mais o mesmo após 1933.


Time do Ferroviário que disputou seu primeiro Campeonato Cearense em 1938
Em pé: José Severiano Almeida (diretor), Oscar Carioca, Procópio, Adelzirio, Dudu, Bitonho, Zeca Pinto (atacantes), Valdemar Caracas (treinador) e Alberto Gaspar de Oliveira (diretor); Agachados: Baiano, Zimba, Boinha (médios), Zé Felix e Popó (zagueiros); Sentados: Gumercindo e Puxa-faca (goleiros).
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De acordo com Ernani Buchman, ex-presidente do Paraná Clube e autor do livro “Quando o Futebol Andava de Trem”, o Ferroviário não só é um dos maiores vencedores entre mais de uma centena de times de origem ferroviária no país, como é o que demonstra hoje a maior vitalidade, seguindo forte diante de tantas dificuldades que assolam o futebol brasileiro.

VALDEMAR CARACAS



Valdemar Cabral Caracas, nascido na cidade de Pacoti (CE) em 9 de novembro de 1907, é o fundador do Ferroviário Atlético Clube. Foi também o primeiro comentarista de futebol do estado, trabalhando na Ceará Rádio Clube, pioneira da radiofusão cearense. Caracas se envolveu ainda com a política, sendo eleito vereador de Fortaleza em 1937, pelo extinto Partido Socialista. Posteriormente, em 1947, ajudou a fundar o Partido Socialista Brasileiro (PSB) no estado do Ceará.
Em 2007, comemorou-se o Centenário de Caracas.

A seguir uma crônica do próprio Valdemar Caracas, escrita em maio de 1994, onde ele conta detalhes sobre a fundação do clube coral.

FUNDAÇÃO DO FERROVIÁRIO ATLÉTICO CLUBE

Por Valdemar Cabral Caracas

Vou falar sobre o Ferroviário, precisamente do Ferroviário Atlético Clube. Nascido em 1933, fruto da junção das equipes "Matapasto" e "Jurubeba", recebeu, na pia batismal, o nome de Ferroviário Footbal Clube, mas, na confirmação da crisma, substitui o Football por Atlético.
Antes que me perguntem, vou dar, para vocês, esta explicação primordial. Iniciava-se o ano de 1933, quando a direção da Rede de Viação Cearense (RVC) autorizou a execução de serviços extraordinários nas oficinas do Urubu, para a reparação de locomotivas, carros e vagões, durante um expediente noturno, que começava às 18 e terminava às 20 horas. Como o expediente normal expirava às 16:25, os operários mais jovens que residiam longe dali (Barro Vermelho, Soure, Otávio Bonfim, Quilômetro 8, Parangaba, Mondubim) resolveram aproveitar a hora de folga para a prática de futebol; na preparação do campo, a relva retirada do espaço a ele destinado, era constituída de mata-pasta e jurubeba.
A verve operária, que era fértil, escolheu, então, estas plantas medicinais para denominação das duas onzenas que se defrontavam todas as tardes, no campo improvisado. As traves das metas eram roliças, confeccionadas que foram com tubos inservíveis, retirados de caldeiras das "Marias-fumaça".
Com aquele "timezinho" cognominado apenas de Ferroviário, eles, os operários-atletas, ou melhor, pebolistas, foram aos subúrbios onde realizaram partidas amistosas, com real proveito para a harmonia do conjunto, tudo sem qualquer interferência da minha parte.
Foi, então, que deliberei fazer dele gente, como se diz na gíria. Reuní operários, meus companheiros, promovi sessão com livro para a lavratura de atas, fiz um retrospecto da agremiação que surgia, completei o nome desta e disse-lhes da importância daquela reunião, como fator auspicioso para projeção da classe ferroviária.
Era pretensão minha que tal ocorresse a 9 de novembro, quando eu completaria 26 anos, mas o entusiasmo exigiu a antecipação e não perdi tempo, marcando o dia para 9 de maio, exatamente 6 meses antes de 9 de novembro. Parti, então para a nova missão, aproveitando as horas disponíveis da minha atividade funcional.
Fui tudo no Ferroviário, menos presidente, porque nunca quis sê-lo. Fui pai, mãe, babá e, sobretudo, seu educador, disciplinando-o, pois a equipe suburbana era useira e vezeira em tomar o apito do árbitro, quando a decisão deste não lhe fosse agradável. Acabei com essa prática danosa ao seu comportamento, o time se fez clube, cresceu e está aí, vencendo os tropeços e dando alegrias a todos nós, seus torcedores.


Foto de Valdemar Caracas em 1926, em Missão Velha, interior do Ceará.

Fontes: Sítio Oficial do Ferroviário e Livro Ferroviário – Nos Trilhos da Vitória, Airton de Farias, Edições Livro Técnico.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Memória do Futebol Cearense - Os caminhos que levaram o Ceará ao pentacampeonato


A foto do time do Ceará campeão em 1915: Aldo, Meton e Garcia; Ninito Silveira e Rola; Abreu, Pacatuba, Humberto Ribeiro, Gotardo e Guilherme (Foto: REPRODUÇÃO)


Documento do Arquivo Público comprova que a Federação (ADC) só ganhou personalidade jurídica em 1936 (Foto: REPRODUÇÃO)

O Diário do Nordeste mostra os passos seguidos pelo Ceará para ver o penta de 1915 a 1919 reconhecido oficialmente

Até o reconhecimento por parte da Federação Cearense de Futebol (FCF) — no dia 17 de dezembro último, atendendo decisão do Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol (TJDF) — do pentacampeonato conquistado pelo Ceará Sporting nos anos de 1915, 1916, 1917, 1918 e 1919, várias etapas foram superadas pelos alvinegros. O Diário do Nordeste reconstituiu essa epopéia e depois de observar os autos do processo, apresenta alguns documentos que foram decisivos para a consumação do maior anseio da torcida do Ceará.
O início da pesquisa em busca de documentos oficiais foi há quase treze anos, na gestão do ex-presidente Emanuel Gurgel. Na ocasião, ele delegou ao advogado Clarke Leitão a tarefa de procurar elementos que comprovassem o penta.

O início de tudo


O Conselheiro Luiz Queiroz Campos resolveu formar uma grupo para iniciar uma ampla pesquisa. O objetivo era comprovar a história narrada no Livro ‘‘A Verdadeira História do Futebol Cearense’’, do autor Frederico Maia, escrito em 1955 e em várias outras publicações.
O primeiro passo foi ir à Biblioteca Pública Moisés Pimentel. Lá, foram encontrados exemplares raríssimos, do jornal Diário do Estado, pertencente ao Partido Conservador Cearense e que circulou nas o primeiras décadas do século passado. Nas empoeiradas edições, fatos como a criação da Liga Metropolitana Cearense de Futebol (LCMF), que realizou as cinco competições, foram comprovados — ver matéria sobre o assunto abaixo.
Em seguida, era preciso conseguir documentos alusivos à LMCF. Numa primeira investida no Arquivo Público, não se encontrou nenhum documento. Segundo Luiz Campos, a constatação não desestimulou o grupo. Por ironia do destino, os alvinegros encontraram ´a luz no fim do túnel´ numa publicação de 1970 do seu maior rival, o Fortaleza.
Era uma revista que se chamava ‘‘Leão 70’’ e foi escrita na época por tricolores históricos como José Raimundo Costa, Blanchard Girão e Alfredo Sampaio, dentre outros. Nela, uma matéria causaria uma reviravolta no caso.

´Golpe de Estado´

Intitulada ‘‘Golpe de Estado’’, a reportagem conta que, a Associação Desportiva Cearense (ADC), cuja data de fundação conhecida por todos até então era 1920, não ocorreu de direito, apenas de fato. Alguns dissidentes da diretoria da ADC de posse da informação ‘‘bombástica’’, foram as cartório Pergentino Maia e registraram a entidade, dando-lhe, enfim, personalidade jurídica. Imediatamente após isso, procederam a filiação junto à Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje, CBF. Diante dessa descoberta, ficava claro que nem a LMCF, nem a ADC, até 1935, tinham personalidade jurídica.

Arquivo Público

Os pesquisadores mais uma vez retornam ao Arquivo Público e comprovaram o que dizia a revista Leão 70. A instituição fornece uma certidão negativa, afirmando que ‘‘o primeiro registro da ADC foi lavrado no livro 2, às folhas 66 a 77, número de ordem 136, em 29 de janeiro de 1936, no Cartório do 3º Ofício de Notas Pergentino Maia’’. O Diário do Nordeste, num furo jornalístico, publicou matéria a respeito do assunto, inclusive com a íntegra do documento, na edição de 16 de outubro de 2005.
Quatro dias depois, o assessor jurídico da FCF e atual vice-presidente, Mauro Carmélio, em entrevista à nossa reportagem, admite que a ADC só foi registrada em 1936. Na ocasião, o advogado do Ceará, Clarke Leitão, dizia que ‘‘o assunto estava sacramentado’’.
Para Clarke, ou a FCF reconheceria os títulos a partir de 1915 ou teria que fazê-los somente de 1936 para cá. ‘‘Pela pesquisa, constatamos que em todos os outros estados funcionavam ligas chamadas de metropolitanas, embora patrocinasse os certames estaduais. Aqui foi a mesma coisa’’.

HEGEMONIA

39 títulos oficiais de campeão cearense passou a ter o Ceará após o reconhecimento do pentacampeonato conquistado de 1915 a 1919

PROTAGONISTAS
Vários personagens participaram do caso

Emanuel Gurgel
Foi o presidente do Ceará em 1995, período no qual atribuiu a tarefa ao advogado Clarke Leitão de buscar as provas sobre o penta do Vovô para, depois, levar o caso à Justiça Desportiva e Comum, se preciso fosse

Clarke Leitão
Foi o primeiro advogado do Alvinegro a tratar do assunto, há 13 anos, e o único a permanecer no caso até o seu desfecho. Independentemente da diretoria que comandava o clube, nunca deixou o assunto morrer

Emerson Damasceno
Não ficou tanto tempo à frente do Departamento Jurídico do Vovô, mas teve participação importante: foi ele quem trouxe do Rio de Janeiro a jurisprudência do caso Botafogo, que teve o título de 1907 reconhecido

Gonçalves Feitosa
Como diretor jurídico do Ceará, juntamente com Clarke, deu entrada no dia 13 de outubro de 2005 no pedido de reconhecimento do penta junto à FCF, que só veio atender após determinação judicial do TJDF

Irazer Gadelha
Após salvar o Ceará, juntamente com Clarke, do rebaixamento para a Série C no ´caso Preto´, foi importante em várias fases do processo. Mesmo convalescendo de doença, foi ao TJDF defender o Ceará

Haroldo Martins
É o mais novo desse grupo, embora seja o atual diretor jurídico do Ceará. Em 11/12/07, mesmo sem apoio dos dirigentes de então, protocolou no TJDF a ação declaratória do penta, que foi acatada em 10/12/08.

Notícias da época comprovam os livros


Mário Degésio Cavalcanti entrega o documento de homologação do penta a Evandro Leitão (Foto: KIKO SILVA)


Fac-símiles do Diário do Estado mostram, na sequência, a chamada para o jogo final de 1915, o resultado da partida, a reunião para a formação da Liga, que seria presidida por Alcides Santos, e o início do campeonato de 1915 (Foto: REPRODUÇÃO)


O Ceará tinha uma série de livros narrando a história do pentacampeonato. Mas, para os pesquisadores era necessário mostrar algo mais. Daí ter sido longa a busca nos jornais da época. Segundo Clarke Leitão, o Ceará conseguiu mais documentos desse período — de 1915 a 1919— do que da década de 20.
Na sequência abaixo, temos quatro fac-símiles importantes de notícias publicadas pelo Diário do Estado. A primeira delas foi no dia seis de novembro de 1915, na página 4 da edição de número 280. Sob o título ‘‘O Stela Foot-ball Club e o Ceará Sporting Club disputam amanhã o título de campeão do Ceará no campo do Bemfica’’. A segunda notícia é do dia 9 de novembro (edição 282, página 4). Traz o resultado do jogo: vitória do Ceará por 2x1, gols de Humberto Ribeiro e Pacatuba. Pedro Riquet descontou para o Stela.

Alcides Santos

Outra notícia importante foi encontrada na edição de número 141, página 2, publicada no dia 31 de maio de 1915. ‘‘Reunir-se-à domingo, 30 do corrente, a primeira sessão preparatória para a instalação da LMCF, a qual será presidida interinamente pelo distincto footballman Alcides Santos’’. Esse assunto, aliás, foi levado ao TJDF, quando os advogados do Ceará apresentaram o livro em comemoração aos 85 anos de fundação do Fortaleza, no qual trazia uma matéria sobre o fundador do Tricolor, onde frisava que ‘‘Alcides Santos foi um dos responsáveis por transformar a LMCF em ADC’’.
Na última notícia, publicada pelo Diário do Estado em 10 de junho de 1915, (pág 2), fala do início do campeoanto de 1915 que será realizado pela ‘‘Liga Cearense de Foot-Ball, que, a exemplo de suas congêneres dos outros estados, iniciará seus jogos no presente campeonato no dia quatro de julho, no ground do Jokey Club, o qual será disputado pelos primeiros teams do Stela e do Ceará’’.
Clarke Leitão revelou que o clube buscou as súmulas, mas ficou sabendo que nunca poderia encontrá-las, ‘‘já que as mesmas só foram utilizadas no nosso futebol a partir dos anos 40 do século passado e a FCF só as tem guardadas a partir da década de 90’’.

"O reconhecimento do penta foi justo, pois conseguimos provas irrefutáveis do que ocorreu naqueles anos"
"Se a LMCF não tem personalidade jurídica, o mesmo ocorre com a ADC até o ano de 1935"
Clarke Leitão
Advogado do Ceará

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Memória do Futebol Cearense: Gentilândia


A Gentilândia é uma localidade da cidade de Fortaleza. Faz parte do Bairro Benfica - e corresponde ao quadrilátero urbano compreendido entre as avenidas da Universidade, Treze de Maio, Expedicionários e Eduardo Girão. Seu nome deriva do sobrenome "Gentil", família que durante décadas deteve as terras que hoje formam a comunidade.
O bairro possui uma quadra poliesportiva: o Ginásio Municipal Aécio de Borba. Fundado em 1979, recebe diversas competições esportivas, bem como outros tipos de eventos, como shows municipais e a “apuração” dos desfiles das escolas de samba de Fortaleza.
Próximo ao ginásio encontra-se o Estádio Municipal Presidente Vargas (PV) que desde 1941 abriga boa parte dos jogos do Campeonato Cearense de Futebol, bem como algumas das partidas de competições de nível nacional disputadas por clubes cearenses. A presença deste estádio faz do futebol um tema muito presente no cotidiano do bairro, seja nas conversas entre amigos nas calçadas e bares, seja na presença maciça de torcedores em dias de jogo. Esses torcedores compõem boa parte da clientela do comércio formal (bares, restaurantes) e informal (vendedores de churrasco no espeto, comerciantes de camisas com a marca de times, cambistas...).
A Gentilândia possuiu um clube de futebol próprio: o Gentilândia Atlético Clube, vencedor do "Torneio Início" de 1959 e do Campeonato Cearense de Futebol de 1956.
Se, como dizem, esporte faz bem para o corpo e para a mente, a história do futebol cearense está aí para comprovar a máxima. Durante um bom tempo, a Academia deixou de lado os muros universitários, o campo das letras, para se fazer representar em outra frente: os gramados. E o mecanismo dessa transformação até então inédita no futebol local atende pelo nome de Gentilândia Atlético Clube, o "Clube dos Acadêmicos".
Acadêmicos em campo
O Gentilândia Atlético Clube foi fundado a 1º de janeiro de 1934, a partir do Clube Social Gentilândia, fundado três anos antes, e que funcionava no bairro de mesmo nome, por um grupo de desportistas, dentre os quais figuram Oton Sobral, Moacir Machado, Jandir Machado, Paulo Araújo, José Lemos e Raimundo Cals. Com as cores azul e branca, estreou em disputas do Campeonato Cearense naquele mesmo ano, mas sem sucesso algum. No ano de 1935, surgiu um desentendimento entre a direção da A.D.C. e os dirigentes alvi-anis, passando o clube a viver nos subúrbios, disputando partidas amistosas. Essa situação permaneceu até 1937, quando o Gentilândia suspendeu suas atividades futebolísticas. O entrevero desmotivou os dirigentes do clube, que desistiram de retomar as disputas oficiais por anos. Nesse tempo, o futebol do Gentilândia "não passou de ano", restringindo-se aos torneios de categorias de base, enquanto que o clube continuou com as atividades sociais - matinês, festas dançantes e "pic-nics". A ação extra-campo foi importante para consolidar o Gentilândia como uma agremiação eminentemente jovem e angariar simpatizantes para a retomada do time às competições estaduais.
Em 1938, regressou às canchas suburbanas, com um esquadrão denominado Leão do Subúrbio. No ano de 1943, o Gentilândia viu-se forçado a suspender suas atividades, para reiniciá-las em 1944. E, em 1948, foi convidado a disputar o campeonato principal, promovido pela Federação Cearense de Desportos, capitaneado pelos garotos da Cruzada Infantil e da Congregação Mariana da Igreja dos Remédios, que treinavam no campinho atrás da igreja (hoje, o lugar, próximo ao canal do Jardim América, está ocupado por residências).

Profissional
Foi nessa época em que o apelido do time definitivamente "pegou". "O Gentilândia era chamado de 'Time dos Acadêmicos' porque era formado só de rapazes da sociedade. Só tinha acadêmicos, estudantes de medicina, de direito. Ninguém era profissional", aponta Airton Monte, ex-jogador do time entre 1948 e 1951, vários jogadores eram formados ou estudantes em cursos superiores, tais como: Wildson (Contador), Ossian Araripe (Direito), Edilson "Mandrake" Carneiro, Zé Walter, José Mário Mamede, Sérvulo Barroso, Zécandido, Edilson Lima Gomes (Odontologia), Denizio (Medicina), Paulo Mamede e Moacir Ciarlini (Farmácia), Cândido (INSS), Alfredo Linhares (Professor), Newton Studart (Economia), Orion (Agronomia), Haroldo Guimarães (Direito) e Haroldo Castelo Branco (Escola Militar ). Quando foi campeão em 1956, o Gentilândia contou na sua formação com craques geniais: Pedrinho Simões, Fernando Sátiro, Wiliam Pontes, Pipiu, Edilson e Liminha. O último campeonato disputado pelo Gentilândia foi em 1965.


Equipe do Gentilândia em 1954, ainda com as cores azul e branco: A partir da esquerda: (em pé) Zé Raimundo, Betinho, Aldo, Mozart e Bill Rola; (agachados) Otávio, Teófilo, Luiz Eduardo, Bebeto, Fernando Sátiro e Zé Pequeno. Anos depois, Bebeto, pai do repórter fotográfico LC Moreira, foi comentarista dos Diários Associados. Sátiro brilhou no São Paulo. Bill Rola é conceituado dentista. Fonte: Coluna do Tom Barros – Jornal Diário do Nordeste.

A equipe permaneceu como figurante até 1956, quando demonstrou ter aprendido a lição e levou seu único título estadual. A competição foi bastante conturbada. O Gentilândia venceu o primeiro turno, mas a segunda fase nem chegou a ser disputada, por conta das fracas rendas e das inúmeras temporadas de times de outros estados por aqui (eram mais rentáveis para o clubes). A Federação Cearense de Desportos (FCD, sucessora da ADC) não conseguiu organizar o returno e, por fim, decidiu proclamar o Gentilândia campão apenas em 13 março de 1957, às portas de uma nova edição do campeonato.
O time do Gentilândia que se sagrou campeão cearense de 1956, tinha na sua equipe jogadores excepcionais como os goleiros Pedrinho Simões e Gilvan Dias, o atacante Pipiu, o clássico Fernando Sátiro, que depois brilhou no São Paulo, e o notável e saudoso William Pontes, que nos anos seguintes brilharia no Ceará, Fortaleza e Seleção Cearense.
Nesse meio tempo o Gentilândia trocou o tradicional uniforme alvi-anil pelo rubronegro, similiar ao do Flamengo. Com o novo traje a equipe alcançou mais uma taça, a do Torneio Início de 1959, ao bater o Ceará na final. O "Clube dos Acadêmicos" disputou o Estadual ainda até 1965, sempre fazendo figura, quando desistiu da competição na metade e encerrou as atividades. A carreira academica do Gentilândia nos gramados cearenses acabava ali.


E-mais

O humorista Renato Aragão declarou recentemente ter atuado como zagueiro do Gentilândia quando jovem. A informação, no entanto, é questionada por ex-atletas do time. “É conversa dele. Comecei a andar no Gentilândia em 1951 e nunca vi ele nem na sede”, afirma o ex-jogador do time Airton Monte. “Também já ouvi falar dessa história mas não acredito. De 45 pra cá acompanho o Gentilândia, que foi organizado praticamente no quintal da minha casa, na rua Adolpho Herbster”, acrescenta o ex-goleiro do time, Pedrinho Simões.
O entrevero que resultou no afastamento do Gentilândia do Estadual de 1934 aconteceu na vitória sobre o Liceu por 3 a 2, em que os acadêmicos tiveram o terceiro gol considerado irregular e anulado em julgamento da ADC - a prática era permitida na época. Em sinal de protesto, os acadêmicos deixaram de comparecer às reuniões da entidade e foram excluídos do Estadual.
O título do Gentilândia de 1956, conquistado após a vitória no primeiro turno, sem que o segundo tenha sido disputado, fez com que o time fosse considerado “meio-campeão” por setores da imprensa.
Diretores do Gentilândia campeão estadual de 1956, empolgados com a conquista, decidiram mudar o tradicional uniforme alvi-anil do time para o rubronegro. A idéia era pegar carona na popularidade do Flamengo, do Rio de Janeiro. Não deu certo e o Gentilândia ficou descaracterizado.
Por pouco o Gentilândia não fica de fora do Estadual de 1956, o único vencido pelo clube. Isso porque, na época, a Federação Cearense de Desportos (FDC) realizava um turno classificatório antes do início do campeonato, para eliminar dois times da disputa. O Gentilândia terminou a fase como o sétimo colocado entre os oito competidores.
Contudo, protestou o resultado do jogo contra o América (derrota por 4 a 0) e acabou ganhando os pontos. Com isso os acadêmicos subiram para o sexto lugar na classificação e desbancaram o Ferroviário da disputa. A equipe empreendeu uma boa campanha na fase final - perdeu apenas na estréia, 2 a 0 diante do Fortaleza.
O título veio com a vitória sobre o Ceará por 1 a 0, com gol do atacante Pipiu. “Na própria fase de classificação o Gentilândia já vinha se montando. Aí o Jombrega (ex-jogador e técnico) chegou e acertou o time”, aponta Pedrinho Simões, goleiro dos acadêmicos entre 1952 e 1959.
O Gentilândia venceu o Torneio Início de 1959, disputado em 1º de março. Porém, a boa fase não foi mantida no Estadual - terminou em sétimo lugar entre oito competidores.

Campanha do Gentilândia em 1956.
12.05.1956
GENTILÂNDIA 3-5 USINA CEARÁ (FORTALEZA), em Fortaleza
19.05.1956
GENTILÂNDIA 2-2 NACIONAL (FORTALEZA), em Fortaleza
27.05.1956
GENTILÂNDIA 1-2 CEARÁ (FORTALEZA), em Fortaleza
10.06.1956
GENTILÂNDIA 0-4 FERROVIÁRIO (FORTALEZA), em Fortaleza
17.06.1956
GENTILÂNDIA 2-0 FORTALEZA (FORTALEZA), em Fortaleza
23.06.1956
GENTILÂNDIA 3-1 CALOUROS DO AR (FORTALEZA), em Fortaleza
01.07.1956
GENTILÂNDIA 0-4 AMÉRICA (FORTALEZA), em Fortaleza
11.08.1956
GENTILÂNDIA 0-2 FORTALEZA (FORTALEZA), em Fortaleza
19.08.1956
GENTILÂNDIA 1-0 CALOUROS DO AR (FORTALEZA), em Fortaleza
26.08.1956
GENTILÂNDIA 3-2 USINA CEARÁ (FORTALEZA), em Fortaleza
08.09.1956
GENTILÂNDIA 2-1 AMÉRICA (FORTALEZA), em Fortaleza
16.09.1956
GENTILÂNDIA 1-0 CEARÁ (FORTALEZA), em Fortaleza
12 JOGOS
06 VITÓRIAS
01 EMPATE
05 DERROTAS
18 GOLS MARCADOS
23 GOLS SOFRIDOS
Campeonato Cearense 1956
Turno de Classificação
12/05/56 Usina Ceará 5-3 Gentilândia
12/05/56 Calouros do Ar 4-3 América-CE
13/05/56 Ceará 5-3 Ferroviário-CE
13/05/56 Fortaleza 3-1 Nacional-CE
19/05/56 Gentilândia 2-2 Nacional-CE
19/05/56 Ceará 1-1 América-CE
20/05/56 Calouros do Ar 0-0 Ferroviário-CE
20/05/56 Fortaleza 1-0 Usina Ceará
26/05/56 Calouros do Ar 0-0 Fortaleza
26/05/56 Ferroviário-CE 3-2 Usina Ceará
27/05/56 Ceará 2-1 Gentilândia
27/05/56 América-CE 6-0 Nacional-CE
09/06/56 Usina Ceará 2-1 Ceará
09/06/56 América-CE 2-1 Fortaleza
10/06/56 Calouros do Ar 4-0 Nacional-CE
10/06/56 Ferroviário-CE 4-0 Gentilândia
16/06/56 Calouros do Ar 4-1 Ceará
16/06/56 América-CE 5-3 Ferroviário-CE
17/06/56 Gentilândia 2-0 Fortaleza
17/06/56 Usina Ceará 11-0 Nacional-CE
23/06/56 Ferroviário-CE 3-1 Nacional-CE
23/06/56 Gentilândia 3-1 Calouros do Ar
24/06/56 Ceará 2-0 Fortaleza
24/06/56 América-CE 3-3 Usina Ceará
29/06/56 Ceará 3-1 Nacional-CE
30/06/56 Calouros do Ar 2-1 Usina Ceará
01/07/56 América-CE 4-0 Gentilândia[pontos foram atribuídos ao Gentilândia]
01/07/56 Fortaleza 4-0 Ferroviário-CE

P J V E D GP GC SG
1. Calouros do Ar 10 7 4 2 1 15 8 7
2. Ceará 9 7 4 1 2 15 12 3
3. América-CE 8 7 3 2 2 24 12 12
4. Usina Ceará 7 7 3 1 3 24 13 11
5. Fortaleza 7 7 3 1 3 9 7 2
--------------------------------------------------------
6. Ferroviário-CE 7 7 3 1 3 16 17 -1
--------------------------------------------------------
7. Gentilândia 7 7 3 1 3 11 18 -7
--------------------------------------------------------
8. Nacional-CE 1 7 0 1 6 5 32 -27

Obs.: Ferroviário e Nacional foram eliminados do campeonato.

1º Turno
11/08/56 Fortaleza 2-0 Gentilândia
15/08/56 América-CE 1-0 Calouros do Ar
18/08/56 Ceará 1-1 Usina Ceará
19/08/56 Gentilândia 1-0 Calouros do Ar
25/08/56 América-CE 1-0 Fortaleza
26/08/56 Gentilândia 3-2 Usina Ceará
01/09/56 Calouros do Ar 1-0 Ceará
02/09/56 Fortaleza 0-0 Usina Ceará
08/09/56 Gentilândia 2-1 América-CE
09/09/56 Calouros do Ar 1-0 Fortaleza
15/09/56 Usina Ceará 3-0 América-CE
16/09/56 Gentilândia 1-0 Ceará
22/09/56 Usina Ceará 3-2 Calouros do Ar
23/09/56 Ceará 2-1 América-CE
30/09/56 Fortaleza 4-2 Ceará

P J V E D GP GC SG
1. Gentilândia 8 5 4 0 1 7 5 2 (CAMPEÃO)
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2. Usina Ceará 6 5 2 2 1 9 6 3
3. Fortaleza 5 5 2 1 2 6 4 2
4. Calouros do Ar 4 5 2 0 3 4 5 -1
5. América-CE 4 5 2 0 3 4 7 -3
6. Ceará 3 5 1 1 3 5 8 -3


Resultado Final

01º Gentilândia Atlético Clube - Fortaleza
02º Usina Ceará Atlético Clube - Fortaleza
03º Calouros do Ar Futebol Clube - Fortaleza
04º América Futebol Clube - Fortaleza
05º Fortaleza Esporte Clube - Fortaleza
06º Ceará Sporting Club - Fortaleza
07º Ferroviário Atlético Clube - Fortaleza
08º Nacional Atlético Clube - Fortaleza

Artilheiro - Luis Martins (Usina Ceará) 10 gols

Obs. O campeonato seria realizado em ida e volta, ponto corrido. Ao final da 1ª volta, o Gentilândia tinha aberto grande vantagem em pontos ganhos, notadamente em relação a Ceará e Fortaleza, que tinha 5 pontos a menos. Daí, surgiu à idéia de fazer o campeonato em 2 turnos distintos, garantindo assim o vice-campeonato ao Gentilândia, com o 2º turno começando todos com zero ponto. Como em outubro começou o campeonato de seleções, o impasse entrou pelo ano de 1957, e em março daquele ano, decidiu-se começar um novo campeonato, e o Gentilândia foi declarado campeão de 1956.

Fontes: Jornal O Povo, Jornal Diário do Nordeste e RSSSF Brasil