segunda-feira, 28 de julho de 2008

Memória do Futebol Cearense - Ferroviário 1968 - O último dos invictos.



Eclosão da Guerra do Vietnã, Primavera de Praga e rebeliões operário-estudantis na Europa. No Brasil, tanques militares tomam as ruas com a divulgação do Ato Institucional Nº5, enquanto a população responde em passeatas pelas principais cidades do País. O ano de 1968 passou mas, como se sabe, não acabou, deixando marcas até hoje na humanidade. E, guardadas as proporções, no futebol cearense também. Há exatas quatro décadas o Ferroviário Atlético Clube vencia o Campeonato Cearense de forma invicta.
O feito dos corais, que completa aniversário hoje, não foi repetido desde então. O Ferroviário dominou o ano, pautado por uma equipe equilibrada, em que despontavam os volantes Coca-Cola e Edmar, além do meia-atacante Lucinho. O time conquistou os dois turnos da competição sem uma derrota sequer - foram oito vitórias e seis empates nos 14 jogos da campanha. No jogo do título, pela última rodada do returno, empate por 1 a 1 com o Fortaleza, no estádio Presidente Vargas, em 28 de julho.
O jogo teve sabor especial. Afinal, o Tubarão deixara escapar o título do ano anterior justamente para o Leão, após vencer o primeiro jogo da decisão e perder os dois seguintes. Nesta nova decisão a equipe do técnico Ivonísio Mosca abriu o placar com João Carlos, de cabeça, aos 20min da etapa inicial. Croinha empatou para os leoninos aos 14min da etapa final. Mas o empate favorecia o Ferrão, desde que o Quixadá não vencesse o Guarany-S, fora de casa. A partida terminou em 4 a 4 e, com a combinação dos resultados, os ferroviários foram à desforra mantendo a invencibilidade e levando o título de modo arrastão.
Era o fim de um jejum de 16 anos sem campeonatos. E o início de uma festa que ficou marcada na época. O primeiro turno cearense de 68 foi bastante disputado entre Ferroviário, Ceará, Fortaleza, América (campeão estadual de 66) e Calouros do Ar (campeão de 1955). Para se ter ideia da competitividade, os citados quadros revezaram-se nas primeiras posições até a quinta rodada, quando o Ferrão e Calouros assumirama cabeça da tabela. Entretanto, o Calouros na última rodada tropeçou diante do Quixadá ao perder poer 1 x 0, dando de mão beijada o título ao Tricolor da Barra do Ceará.
No segundo turno, a disputa concentrou-se entre Ferroviário, Fortaleza e Calouros e o surpreendente Quixadá (time fundado na cidade do mesmo nome em 1965, a partir da fusão das equipes do Bangu e Avante). Apesar disso, o Ferrão ganhou merecidamente o turno e o título arrastão em novo empate com o Fortaleza, agora em 1 x 1, uma partida a qual o Peixe poderia inclusive ter goleado facilmente.
Nesse jogo, já aos 4 minutos, uma violenta bola de Coca-Cola chocou-se com o travessão superior da meta do goleiro Gilberto. O meio campo coral, composto por Edmar, Coca-Cola e Mano, infernizou a defensiva adversária no 90 minutos. E quando o Fortaleza tentou uma tímida reação, o goleirão tricolário Cavalheiro brilhou no arco. O Ferroviário marcaria seu tento aos vinte minutos da primeira fase: num escanteio bem executado por Raimundinho, João Carlos mergulhou de cabeça e violento, sem nenhuma chance para o goleiro do Fortaleza. Apenas aos 14 minutos do segundo tempo, o Leão empatou através de um lindo gol de Croinha de virada, numa das poucas falhas da zaga do tubarão.
A campanha do Peixe foi irrepreensível. A torcida lavou a alma! Verificaram-se 14 jogos, com 8 vitórias (entre as quais 4 x 0 Ceará, 4 x 1 América e 4 x 2 Messejana), 6 empates e nenhuma derrota, marcando 2y7 gols e sofrendo apenas 13. O Ferrão ganhou igualmente o título de campeão da disciplina (não teve um só atleta expulso em toda a disputa), da taça eficiência, teve maior arrecadação, melhor público, melhor defesa e ataque.
Segundo a edição de O POVO daquele dia, torcedores e atletas permaneceram no campo até a noite, para, em seguida, festejar nos dois grêmios ferroviários da cidade. “A festa foi grande demais. O Ferroviário não ganhava nada há muito tempo. Eu mesmo saí de campo só de cueca”, lembra o volante Edmar. Ele destaca a qualidade da equipe. “O time era uma maravilha, afinado, de toque. Tanto que foi campeão invicto”, conta Edmar, que hoje treina jovens no projeto Bola de Meia, no Parque São Miguel.
Outro jogador daquela equipe, o atacante Orlando Facó lembra que o final dos anos 60 foi um período bom para o clube. “A diretoria era composta por pessoas equilibradas, que fizeram um planejamento a longo prazo”, afirma. Um dos diretores era José Rego Filho. Ele pontua a austeridade administrativa, a disciplina e a participação de toda a classe ferroviária como fundamentais para a conquista do título de 1968. “Foi uma época muito boa, conseguimos muitos avanços”. Avanços lembrados até hoje, quarenta anos depois do “ano que não acabou”.

CAMPEONATO CEARENSE 1968

FERROVIÁRIO 1

Cavalheiro; Wellington, Flodoaldo (Luiz Paes), Gomes e Barbosa; Edmar e Coca Cola; Mano, Paraíba, João Carlos e Raimundinho (Lucinho). Técnico: Ivonísio Mosca de Carvalho

FORTALEZA 1

Gilberto; William, Zé Paulo, Renato e Carneiro; Ivan Frota (Fontoura), Joãozinho e Luciano Oliveira; Humaitá, Croinha e Alísio. Técnico: José Valdo

Local: estádio Presidente Vargas

Data: 28.7.1968

Árbitro: José Felício Lopes

Assistentes: Assis Furtado e Gilberto Ferreira

Público: 13.612 pagantes

Gols: João Carlos (20min 1ºT), pelo Ferroviário; e Croinha (14min 2ºT), pelo Fortaleza


Em pé: Edilson José, Gomes, Douglas, Wellington, Cavalheiro, Luís Paes, Roberto Barra Limpa, Barbosa, Coca-Cola; Agachados: Mano, Sanega, João Carlos, Ademir, Lucinho, Paraíba, Edmar, Raimundinho, Ubiratam.

CAMPANHA

1º Turno

14.2.68 Ferroviário 1 x 1 Quixadá

10.3.68 Ferroviário 3 x 3 Calouros do Ar

13.3.68 Ferroviário 2 x 1 Guarany-S

30.3.68 Ferroviário 2 x 1 Messejana

7.4.68 Ferroviário 4 x 1 América

14.4.68 Ferroviário 4 x 0 Ceará

28.4.68 Ferroviário 0 x 0 Fortaleza

2º Turno

26.5.68 Ferroviário 4 x 2 Messejana

5.6.68 Ferroviário 2 x 1 Guarany-S

19.6.68 Ferroviário 1 x 0 Quixadá

30.6.68 Ferroviário 0 x 0 América

7.7.68 Ferroviário 1 x 1 Ceará

14.7.68 Ferroviário 2 x 1 Calouros do Ar

28.7.68 Ferroviário 1 x 1 Fortaleza

ELENCO CORAL

Goleiros - Douglas, Cavalheiro e Edílson José

Laterais - Wellington, Barbosa e Roberto

Zagueiros - Flodoaldo, Gomes, Luiz Paes e Jurandir

Meias - Edmar, Coca Cola, Lucinho, Sanêga e João Carlos

Atacantes - Mano, Facó, Ademir, Paraíba e Raimundinho

Jogo das faixas com direito a Santos de Pelé

O jogo da entrega das faixas do Ferroviário campeão em 1968 contou com um convidado de peso: o supercampeão Santos. Em partida disputada no dia 4 de agosto, no estádio Presidente Vargas, o time santista, campeão paulista, entrou em campo com muitas de suas estrelas, entre elas a principal, o Rei Pelé.
A equipe se preparava para a disputa do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (similar ao Brasileirão), que venceria ainda naquele ano. O time contou com o goleiro Gilmar, o zagueiro Ramos Delgado, os meio-campistas Clodoaldo e Lima, além do ponta Pepe, só para citar algumas das “lendas” do alvinegro na década de 60. Os corais apostavam em Lucinho, Edmar e Coca-Cola.
Apesar dos bons jogadores nas duas equipes o resultado da partida festiva terminou sem gols. O volante coral Edmar afirma que o Rei chegou a intervir em lance capital da partida. “O juiz (Manuel Joaquim Ramos) marcou um pênalti duvidoso para o Santos e o Pelé mandou o Pepe chutar para fora”, conta Edmar. Contudo, há quem jure que o chute por cima do travessão se deu simplesmente porque Pepe bateu mal na bola.

Fonte:Jornal O Povo
Site do Ferroviário Atlético Clube
Livro: Ferroviário - Nos trilhos da vitória. Airtin Farias.

2 comentários:

Unknown disse...

O jogador raimundinho atacante do ferrão(meu pai), faleceu aos 73 anos no dia 26/01/2015 deixando muitas saudades. Wellington.

Unknown disse...

O jogador raimundinho atacante do ferrão(meu pai), faleceu aos 73 anos no dia 26/01/2015 deixando muitas saudades. Wellington.