sábado, 18 de outubro de 2008

Memória do Futebol Cearense - Fortaleza 90 anos - Breve passeio pela história do Leão do Pici.


Passeio pela história leonina. Seguindo uma espécie de linha do tempo, rememore os grandes momentos, ídolos, as curiosidades e os símbolos da história leonina. Bom passeio!


Leão
Criado em 1967 por um grupo de cinco tricolores - Jackson de Carvalho, José Raimundo Costa, Sílvio Carlos, Vicente Alencar e Júlio Salles. Conforme Sílvio Carlos, a inspiração veio da conquista do Estadual daquele ano. “Foi um título de muita garra, muita camisa”, destaca. Ele conta ainda que a escolha do Leão veio para cativar uma nova geração de torcedores. “O Raimundo Costa pesquisou e viu que o animal que fazia mais sucesso nos circos era o leão. Isso ajudou na escolha”, aponta.

Alcides Santos
Fundador do clube, em 1918, Alcides de Castro Santos é apontado por muitos como o maior incentivador do esporte no Estado. Estudou na Europa e trouxe do Velho Mundo a paixão pelo futebol - criou outro Fortaleza, em 1912, o Stella Foot-Ball Clube, antecessor do Leão, em 1914, e incentivou a fundação da Associação Desportiva Cearense, em 1920. Comerciante, participou ativamente da vida leonina nas primeiras duas décadas de vida do clube.

Escudo
O azul, vermelho e branco demonstra a influência européia, sobretudo francesa. Uma representação encontrada também no Stella, antecessor do Leão, em homenagem ao colégio na Suíça onde estudaram os fundadores dos dois clubes. O nome Fortaleza remete à Capital do Estado, em contraponto ao rival Ceará. Por anos o escudo teve apenas as iniciais FEC.

Fatos curiosos
O Tricolor foi fundado com o nome de Fortaleza Sporting Club. Porém, com a adesão do Brasil à II Guerra Mundial, em 1943, mudou o nome para o atual Fortaleza Esporte Clube.

O Fortaleza chegou a fechar para o futebol. O clube deixou o Cearense de 1929 quando liderava, por dificuldades financeiras, atritos internos e descontentamento com a Federação. Os atletas fundaram o Orion e levantaram o título de 1930. O time perdeu no ano seguinte para o Ceará, em decisão polêmica, e acabou extinto, com os jogadores sendo “repatriados” pelo Tricolor em 1932.

Conforme o pesquisador Alfredo Sampaio, em 1938, o atacante tricolor Alemão anotou oito gols contra o Iracema, sendo seis de cabeça, recorde no futebol local.

O hino que hoje ecoa na voz dos tricolores foi composto em 1967, quanto Jackson de Carvalho resolveu homenagear o clube em forma de música, celebrando seus 50 anos de fundação. Oito anos antes, no entanto, o Leão já contava com uma melodia que narrava sua trajetória nos gramados, composta e interpretada por José Jatahy.

Uniformes



1914
Com camisa branca e uma estrela vermelha no peito surge o Stella Foot-Ball Club, que de cujo seio nasceria o Fortaleza quatro anos depois, já tricolor.

1927
As tradicionais listras em vermelho, azul e branco aparecem de princípio na vertical.

1946
Em uma das variações de estilo, uma listra azul e outra vermelha cruzam a blusa branca do Leão.

1960
O clube já adota o visual que permanece até hoje, com poucas variações - camisa tricolor com listras horizontais, sendo a azul e a vermelhas mais grossas.

2005
Para celebrar os 87 anos de fundação, a diretoria lança uma camisa dourada, de gosto duvidoso.

2008
Versão atual do uniforme. O padrão mantém as tradicionais linhas horizontais, com visual mais moderno nas mangas e gola.

Fatos marcantes

1918
Fundação do clube por um grupo de jovens em 18 de outubro, tendo à frente Alcides Santos.

1920
Ano do primeiro campeonato cearense oficial. O Tricolor vence a competição.

1928
O clube conquista seu primeiro tricampeonato. O feito seria repetido somente entre 2003 e 2005.

1932
O Fortaleza retoma as disputas locais. O clube esteve afastado desde 1929, por causa da crise financeira e divergências com a Federação (ADC).

1946
O Leão vence o Estadual e o Nordestão. A equipe contava com o goleiro Juju, o médio Arrupiado, e os atacantes Jombrega, França, Zecapinto e, de tão fantástica, levou o nome de Esquadrão Atômico.

1957
Por iniciativa de Carlos Rolim Filho o Fortaleza comprou o terreno da sede do Pici. O estádio levou o nome do fundador Alcides Santos e os alojamentos o de Otoni Diniz.

O time conquista mais um bicampeonato, só que com um gostinho especial. Na série decisiva, bate o rival Ceará por três vezes na mesma semana: 4 a 0; 1 a 0; e 3 a 1.

1983
O Tricolor montou uma seleção em busca de mais um bicampeão. Capitaneados pelos 33 gols de Luizinho das Arábias, levaram o troféu com vitória sobre o Ferroviário na decisão.

1995
Época de vacas magras no Pici. O clube joga a Série C até 1999, mas é beneficiado pela disputa do Torneio João Havelange, em 2000. Após chegar próximo do fundo do poço era a hora da retomada tricolor.

2000
O Fortaleza deixa a fila de sete anos sem títulos locais ao empatar a decisão com o Ceará, por 1 a 1, em Sobral. De quebra, o Tricolor impediu o penta do maior rival. Depois daí viriam duas ascensões para a Primeira Divisão e mais uma série de títulos locais.

Ídolos


ANOS 20
JURACY
Primeiro grande ídolo. Atuou nos estaduais de 1920, 21, 23, 24 e 27, conquistando três títulos e três artilharias. Outros: Humberto Ribeiro (atacante), João Gentil (volante), Rolinha (goleiro) e Moacir (zagueiro)

ANOS 30
JOMBREGA (Atacante)
Famoso ponta direita defendeu o Fortaleza em 1937/38 e entre 1946 e 1948, conquistando quatro estaduais. Outros: Hildebrando, Bila, Vem-Vem e Mundico (atacantes)

ANOS 40
FRANÇA
Recordista em número de artilharias no Cearense - cinco vezes, sendo três pelo Tricolor. Campeão Cearense pelo time em 1946 e 1947, e do Nordeste em 1946. Outros: Juju (goleiro), Idalino (volante), Antonino (atacante)

ANOS 50
MOÉSIO GOMES
Sinônimo de Fortaleza, foi o grande atacante do clube na década. Venceu
os estaduais de 1953 e 54, sendo artilheiro em 1952, 53 e 54, além de campeão como treinador pelo time em 1974 e 1982. Outros: Bececê (atacante), Sapenha (zagueiro), Salvador (atacante)

ANOS 60
MOZART GOMES
Para muitos, o principal ídolo da história leonina. Foi campeão cearense em 1959, 60, 65, 67 e 69, além de vice da Taça Brasil de 1960 e artilheiro do estadual de 1964. Outros: Croinha (atacante) Sanatiel (zagueiro), Haroldo
Castelo Branco, Mimi (atacante)

ANOS 70
AMILTON MELO
Atacante tricolor nos início da década de 70. Campeão estadual de 1974 marcando dois gols na final contra o Ceará. Outros: Beijoca (atacante), Chinesinho (volante), Cícero Capacete (goleiro), Louro (lateral direito), Geraldino Saravá (atacante), Lulinha (goleiro), Lucinho (meia)

ANOS 80
PEDRO BASÍLIO
Dono da defesa tricolor desde a década anterior. Um dos maiores zagueiros do clube na história. Outros: Luizinho das Arábias e Adílton (atacantes), Salvino (goleiro), Celso Gavião (zagueiro), Tangerina (meia)

ANOS 90
ELIÉZER
O meia foi o ídolo leonino em uma década não tão gloriosa. Conquistou os cearenses de 1991 e 1992, além de muitas resenhas fora dos gramados. Outros: Sandro (atacante); Mirandinha (atacante) e Expedito (lateral)

2000
RINALDO
É um dos principais goleadores da história tricolor, com mais de cem gols pelo clube. Atuou pelo Leão em 2004, 2006, 2007 e 2008, participando dos títulos estaduais de 2004 e 2007 e da campanha vitoriosa da Série B de 2005. Clodoaldo poderia rivalizar com ele nesta década, porém, a polêmica transferência para o Ceará, em 2006, manchou o Capetinha no Pici. Outros: Bosco (goleiro), Dude (volante), Ronaldo Angelim (zagueiro) e Clodoaldo (atacante)

Números

8 a 0
a favor do Fortaleza é o maior placar registrado em Clássicos-Reis na história. A goleada aconteceu em 17 de julho de 1927 com gols de Hildebrando (3), Pirão (2), Xixico, Humberto Ribeiro e Juracy

13
é o número de bicampeonatos estaduais conquistados pelo Fortaleza, recorde no quesito. O clube possui ainda dois tricampeonatos

16
jogos passou o Fortaleza sem perder para o Ceará em jogos oficiais, entre 1999 e 2001

39
gols é a marca que o atacante Sandro alcançou no Estadual de 1997. Ele é o recordista de gols em uma mesma edição do campeonato.

O HINO ATUAL

Fortaleza, clube de glória e tradição.
Fortaleza, quantas vezes campeão. Fortaleza, querido idolatrado, estás sempre guardado, dentro do meu coração.
Altivo, tua vida sempre foi um marco, tua glória é lutar e vencer também, salve o Tricolor de Aço.
No campo, provaste mesmo que não tens rival, tua turma é valente, é sensacional, salve o Tricolor de Aço.
Soberbo, tua fibra representa um norte, combativo, aguerrido, vibrante
e forte. Sem demonstrar cansaço,
Receba um sincero, abraço da torcida tão leal, meu Tricolor de Aço!

O HINO ANTIGO

Campeão, campeão
Salve o Tricolor de Aço
Azul, branco, encarnado
Suas cores são glórias do passado
São as cores do meu clube, que beleza
Aquela camisa, Fortaleza És da praça, todo mundo tricolor
És na vida, todo tempo, toda dor És no parque, toda a gente a delirar
E cada gente mais se admirar Em cada fileira tens um homem de valor
Vamos pra vitória, Fortaleza, Tricolor.
Campeão! Ô campeão…

Seleção de aço.


A missão era das mais complicadas. Percorrer os 90 anos de história leonina para elencar os time ideal do Tricolor. Uma equipe com o principal destaque do clube em cada uma das 11 posições no gramado. Como a briga se projetava acirrada, o jornal O POVO consultou dez personalidades ligadas ao futebol cearense e ao Fortaleza para assumir a tarefa.
Foram convidados a opinar os ex-jogadores Zé Cândido e Sérgio Redes, o pesquisador e escritor Airton Fontenele, os jornalistas Alan Neto e Vicente Alencar, o radialista Júlio Salles, e os dirigentes Lúcio Bomfim (atual presidente), Ribamar Bezerra e Sílvio Carlos (ex-presidentes) e Mário Henrique (presidente do Conselho Deliberativo). O resultado deu vida a um verdadeiro time dos sonhos, armado no ofensivo sistema 4-3-3.
Como os votantes, em sua maioria, optaram por escolher atletas que eles acompanharam em campo, a seleção tricolor tem como base as décadas de 1960 e 1970. O gol foi uma das posições mais disputadas. Harry Carey, Zé Augusto, Bosco, Pedrinho Simões e Salvino foram citados, mas a vaga ficou com Lulinha, dono da meta tricolor nos anos 70, com três votos. A defesa não contou com surpresas nas laterais: Louro na direita - o mais votado, com sete citações - e Carneiro na esquerda, com cinco votos. A dupla de zagueiros é composta por Pedro Basílio, (6 votos) e Zé Paulo (5) - Ronaldo Angelim por pouco não entrou na equipe.
O meio-campo conta com três dos integrantes do “quadrado mágico” da década de 1970 - Chinesinho (4), Lucinho (4) e Amílton Melo (5). O último, por sinal, ganhou votos também para o ataque. Mas a linha de frente leonina já estava preenchida. Caindo pela direita, a habilidade do ídolo Mozarzinho, com cinco votos. No comando de ataque, outro representante da década de 1960, o mortal Croinha e suas três citações. E na ponta esquerda, Júlio César, que entortou defesas adversárias nos anos 80, com quatro votos.
Uma formação respeitável que, infelizmente, não entrou em campo com a camisa tricolor. mas joga, nos sonhos dos admiradores do bom futebol.

Fonte: Jornal O Povo e Google Imagens

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Memória do Futebo Cearense - Mitotônio e a panelada

No dia 1º de abril, Fortaleza amanheceu com a notícia que todos gostariam que fosse mentira. O ídolo alvinegro Mitotônio falecera poucas horas depois de defender o clube. O motivo: uma panelada mal digerida


Mitotônio chamava-se, na verdade, Antônio Edgar da Silveira e morreu com 35 anos Foto: do Mitotônio/Reprodução Marcos Campos) Parece mentira, mas não é. Na madrugada do dia 1º de abril de 1951, um dos maiores nomes do futebol cearense, o ponta-esquerda Mitotônio, do Ceará, faleceu em decorrência de uma tabelinha nada saudável: panelada e futebol. Principal ídolo dos alvinegros, dez anos de clube, Mitotônio decidiu almoçar panelada no dia anterior à sua morte e, pouco depois da refeição, uniforme no corpo, corria pelo time na vitória por 4 a 1 sobre o Gentilândia, no estádio Presidente Vargas, pelo Estadual do ano anterior.
No início do jogo tudo parecia normal para Mitotônio. Logo aos 6min, deixou sua marca de artilheiro, abrindo o placar para o Ceará com mais um de seus famosos "petardos". Contudo, pouco depois, começava a sentir-se mal. Tentou atuar por toda a partida - na época não eram permitidas substituições - mas acabou permanecendo em campo apenas na primeira etapa, vencida por 3 a 0 pelo Vovô. No segundo tempo, o Alvinegro confirmou a vitória por 4 a 1. Mitotônio não viu o escore final. Neste momento já era atendido na Assistência Municipal, hoje Instituto José Frota.
O diagnóstico apontou congestão estomacal aguda, transformada em hemorragia, ocasionada pela refeição pesada e mal digerida. Como na época as equipes não contavam com departamentos médicos, muito menos com nutricionistas, Mitotônio não se preocupou em relatar o que almoçara pouco antes de encarar o sol de 16 horas no PV. O jogador chegou a ser liberado do hospital após o atendimento, mas, durante a madrugada, voltou a sofrer com dores estomacais e acabou falecendo em sua residência.
A morte trágica comoveu a cidade. "Foi um período de muita tristeza. O Ceará tinha muito mais torcida naquela época e todo mundo sentiu. Até porque ele era o ponta-esquerda da Seleção (Cearense)", conta o ex-jogador Zé Cândido, contemporâneo de Mitotônio. "Ele era muito bom. Tinha um chute muito forte e fazia um lado esquerdo fatal no Ceará com o Hermenegildo", completa.

Carreira
Mitotônio - na verdade, Antônio Edgard da Silveira - tinha 35 anos na época em que faleceu. Nascido em Granja, chegou à capital para atuar pelo Fortaleza, em 1938, participando discretamente do título leonino daquele ano - não possuía contrato formal com o time. Jogou no Tricolor até o início de 1941 quando o técnico Valdemar Santos (Gavião) brigou com a diretoria e foi para o Ceará, levando metade dos atletas.
No Vovô, Mitotônio ficou por dez anos quase ininterruptos, sagrando-se três vezes campeão cearense (1941, 42 e 48) e tornando-se um dos maiores ídolos da torcida alvinegra. A popularidade do ponta o levou a ganhar o concurs "Craque Mais Querido do Estado" e a figurar entre os vinte jogadores mais votados do País em promoção semelhante, promovida pelo Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro. (Colaboraram os esquisadores Airton Fontenele e Cristiano Santos)

PERFIL DO MITOTÔNIO

Nome: Antônio Edgar da Silveira (Mitotônio)

Posição: ponta-esquerda

Nascimento: 22.2.1916

Falecimento: 1.4.1951

Times que defendeu: Fortaleza (1938-41); Ceará (1941-45; 1946-51) e Náutico (1945)

Títulos: quatro vezes campeão cearense (1938, pelo Fortaleza; e 1941, 42 e 48, pelo Ceará); Campeão pernambucano (1945, pelo Náutico)


CAMPEONATO CEARENSE - 1950

CEARÁ 4 - Juju; Valdemar e Pedro Matos; Julinho, Marciano e Oxigenado; Mauro, Pipiu, Alencar, Pretinho e Mitotônio.

GENTILÂNDIA 1 - Assis; Airton Monte e Zemilton; Deim, Otávio e Luizinho; Carlos, Aldo, Dedé, Gilson e Luiz.

Data: 31.3.1951 (o jogo valia pelo Estadual do ano anterior)

Local: estádio Presidente Vargas

Público: aproximadamente 2 mil pessoas

Árbitro: Raimundo Cunha Rola (Rolinha)

Gols: Mitotônio (6min 1ºT), Pretinho (14min e 29min 1º T) e Pipiu (42min 2ºT), para o Ceará; Luiz (8min 2ºT), para o Gentilândia.

Obs: Sentindo-se mal, Mitotônio não retornou a campo para o segundo tempo. Como não havia substituições na época, o Ceará continuou a partida com dez jogadores.

Emais

- Na época da morte de Mitotônio, o ex-jogador Airton Monte, que marcou o ponta no jogo fatídico, chegou a ser acusado de ter ocasionado a morte do atleta. "Andaram insinuando que tinha sido uma porradas que eu teria dado nele no jogo. Mas isso é de gente maldosa", diz. "Eu nem toquei nele. Sempre marquei duro, mas com lealdade", acrescenta.

- O Ceará não disputou o Estadual de 1945 - havia brigado com a Federação no ano anterior. Sem clube, Mitotônio e Hermenegildo, os dois melhores atletas do time, foram para o Naútico, de Recife. Ganharam o Campeonato Pernambucano daquele ano e voltaram para o Alvinegro em 1946.

- O ex-jogador Zé Candido atuou com Mitotônio no primeiro jogo do atleta pelo Fortaleza, em 1938. Ele conta que o atacante veio para o clube a convite do diretor leonino Lauro Martins, que também era natural de Granja. No Tricolor, o técnico Gavião se negou a colocá-lo no time principal. "O Gavião disse que não ia escalar um jogador que ele nunca tinha visto jogar e colocou ele no aspirante (que fazia a preliminar). Foi só o Mitotônio jogar uns 20 minutos e, do jeito que ele jogava, o Gavião colocou logo ele pro primeiro time".

- Mitotônio chegou a ser escalado algumas vezes com o nome de Massantônio, em alusão ao centroavante de mesmo nome da seleção argentina de 1940. A apelido não pegou.

- O jogo em que Mitotônio faleceu era importante para o Ceará. O time precisava vencer para decidir o título na semana seguinte, contra o Ferroviário. Bateu o Gentilândia por 4 a 1 mas perdeu o Estadual na derrota por 1 a 0 para os corais.

- Conheça mais detalhes da história de Mitotônio nos livros "Ceará - Alegria do Povo", de Haroldo Moura e "Ceará - Uma História de Paixão e Glória", de Airton de Farias.

O último marcador do craque

O ex-jogador do Gentilândia e hoje pesquisador de futebol, Airton Monte, foi o responsável por tentar marcar Mitotônio na última partida do ponta-alvinegro - Ceará 4 x 1 Gentilândia, dia 31 de março de 1951, no estádio Presidente Vargas. Airton afirma que Mitotônio logo demonstrou não estar na melhor forma física, o que não impediu o alvinegro de anotar o primeiro gol do time na tarde de sábado.
Airton diz ter presenciado o lance que pode ter ocasionado a complicação no quadro de Mitotônio. "O Gentilândia foi ao ataque e eu apoiei pela direita. Aí perderam a bola e o Pipiu (ponta-direita do Ceará) veio no contra-ataque e chutou. A bola pegou no travessão superior e, na volta, ele (Mitotônio) aproveitou para cabecear e caiu de joelhos, com a mão na cabeça. Eu vinha correndo atrás dele e cheguei perto e perguntei: o que foi, Mitotônio?. Ele respondeu: rapaz, parece que enfiaram uma espada na minha cabeça", relata.
Conforme Airton Monte, o lance aconteceu nos minutos finais da primeira etapa e Mitotônio permaneceu em campo até o intervalo. "Quando eu estava voltando para o segundo tempo, passei por ele e ele estava sentado do lado de fora do gramado, com os pés dentro de um buraco, porque tava tendo reforma naquela época. Eu perguntei se ele tinha melhorado, se ia voltar e ele disse "Vô não, vomitei como um todo". Antes do término do jogo, Mitotônio já estava sendo atendido na Assistência Municipal.

Cidade de luto


Reprodução Marcos Campos/Banco de dados)
"Repercutiu dolorosamente no seio da família esportiva cearense o falecimento ocorrido ontem, às 3 horas da madrugada, do popularíssimo craque Mitotônio". Foi desta maneira que a edição de O POVO de 2 de abril de 1951 noticiou o falecimento de Mitotônio. O texto explorou "a tristeza e espanto" com que a cidade recebeu a tragédia.

Uma casa para a viúva do craque

A comoção causada pela morte de Mitotônio veio acompanhada por uma série de homenagens ao atleta e promessas de ajuda a família dele. A principal foi a "Campanha da Gratidão", lançada pelo Ceará. A idéia dos alvinegros era arrecadar donativos de torcedores do clube e demais desportistas para a construção de uma residência para a família do jogador, desamparada após o falecimento de Mitotônio.
"Uma casa para a viúva do craque", estampou O POVO no dia do lançamento da ação, em 3de abril de 1951. Na época, uma comissão organizadora foi montada na sede do Vovô, então na avenida Senador Pompeu, para receber doações. No dia 7 de abril, o Vovô decidiria o título estadual do ano anterior com o Ferroviário, e os torcedores presentes ao estádio Presidente Vargas foram convidados a colaborar com a campanha. Foi sugerida a realização de um Torneio Início, com a verba arrecadada sendo revertida para a família de Mitotônio.
Não existem registros se a casa realmente chegou a ser entregue - nem a atual diretoria do Ceará possui a informação. O POVO noticiou que Mitotônio deixava uma esposa e três filhos, porém, nenhum parente do craque foi localizado. Em Granja, o filho de uma irmã de criação de Mitotônio, conhecido como Raimundinho, disse que tanto a mãe dele quanto o atleta foram criados por uma professora do município, de nome Joana Rita da Silveira.
Conforme Raimundinho, que classifica Mitotônio de "tio", o jogador nunca foi casado oficialmente e não possui parentes consangüíneos em Granja. "Diziam que ele tinha esposa e dois filhos em Fortaleza. Mas, para a gente, ele era solteiro".

Fonte: Jornal O Povo

domingo, 24 de agosto de 2008

Memória do Futebol Cearense - Os reis do clássico

Quem é melhor, o alvinegro Gildo ou o tricolor Mozarzinho? Entenda o papel destes dois ídolos de Ceará e Fortaleza na consolidação do Clássico-Rei como o principal encontro do futebol cearense

"Em um belo dia a deusa dos ventos beija o pé do homem, o maltratado, desprezado pé, e desse beijo nasce o ídolo do futebol"
(Eduardo Galeano, escritor uruguaio)

A aura que leva um simples encontro entre duas equipes a ganhar o status de "clássico" vai além do mero resultados nas quatro linhas, da rivalidade entre as torcidas ou mesmo do histórico de embates dos adversários. Passa, sobretudo, pelo papel do ídolo. E na construção do nosso Clássico-Rei, o encontro entre Ceará e Fortaleza, hoje consolidado como um dos principais jogos do País, ninguém teve participação tão definitiva quanto Gildo e Mozarzinho, atacantes do Vovô e do Leão, respectivamente, na década de 60.
A disputa sobre qual dos dois era o melhor jogador cearense mobilizou as atenções nos embates entre os rivais na década de 60, período considerado "romântico" do futebol brasileiro, então bicampeão mundial. Os acalorados debates entre torcedores começavam ainda na semana do partida e só cessavam após o jogo, para recomeçar nas vésperas do próximo clássico.
"Quando o Mozart (Mozarzinho) pegava na bola a torcida (do Fortaleza) se levantava. E quando eu pegava na bola era a mesma coisa. E quando um marcava um gol! Ave, Maria... O mundo vinha abaixo", conta Gildo, entre risos. Foi assim entre os anos de 1962 e 1969, período em que Mozarzinho e Gildo se enfrentaram nos jogos disputados no estádio Presidente Vargas superlotado - ainda não existia Castelão. A disputa à parte foi fundamental para consolidar o Clássico-Rei como o principal do Estado. "Já cheguei a jogar clássico com 30 mil pessoas no PV. Nunca joguei com estádio mais ou menos. Era sempre casa-cheia", revela Mozarzinho.
E para o ídolo, o dia de clássico também é uma experiência diferente. "Para mim era uma glória jogar contra o Fortaleza. Esse é o jogo para o jogador", avalia Gildo, que defendeu o Ceará entre 1960 e 65 e de 1968 a 71, levando quatro estaduais e duas artilharias. "A gente dava muita entrevista para o rádio e os jornais. Foi uma época em que o futebol cearense se desenvolveu muito", aponta Mozart, meia-atacante do Leão em 1962, 63, 65 e 69, bicampeão estadual e artilheiro em 1964, pelo América.
Amigos desde os tempos de atletas, os dois preferem a diplomacia na hora de responder a pergunta que até hoje mobiliza debates entres tricolores e alvinegros. Afinal, quem foi melhor, Mozart ou Gildo? "Deixa que o pessoal (torcedores) dizer", desvia o ainda hoje astuto Mozarzinho.


PERFIL DO GILDO
Nome: Gildo Fernandes de Oliveira
Nascimento: 12.1.1940
Naturalidade: Recife (PE)
Posição: centroavante
Times: Santa Cruz, Vasco, Ceará, América-SP e Calouros do Ar
Títulos: Campeonato Cearense (1961, 62, 63 e 71, pelo Ceará); Norte-Nordeste de Seleções (1962, pela seleção cearense); Norte-Nordeste de Clubes (1969, pelo Ceará)
Artilharias: Campeonato Cearense (1961 - 15 gols; e 1963 - 16 gols).


PERFIL DO MOZART
Nome: Mozart Araújo Gomes (Mozarzinho)
Nascimento: 5.1.1939
Naturalidade: Fortaleza-CE
Posição: meia-atacante
Times: Fortaleza, Remo, Náutico, Fluminense, Comercial-SP, XV de Jaú-SP, América-CE, Ceará e Ferroviário
Títulos: Campeonato Cearense (1965 e 1969, pelo Fortaleza); Norte-Nordeste de Seleções (1962, pela seleção cearense)
Artilharia: Campeonato Cearense (1964 - 20 gols)

Vantagem de Gildo
Durante os períodos em que defenderam Fortaleza e Ceará, respectivamente, Mozarzinho e Gildo participaram de 13 Clássicos-Rei por competições oficiais. Estatisticamente, a vantagem no embate particular favoreceu o alvinegro Gildo. O Vovô venceu seis das partidas, com cinco empates e duas vitórias dos leoninos. No quesito gols, Gildo anotou sete vezes contra o rival, Mozarzinho marcou um.
A explicação para a diferença no número de gols está nas características de cada um dos atletas. "Eu achava o Gildo mais fazedor de gols, mas era eu quem trabalhava a bola para ele, para o Croinha (ex-atacante tricolor, já falecido)", diz Mozarzinho. Gildo recorda que os confrontos diante do rápido Mozart era sempre complicados. "Eu dizia toda hora para a minha defesa, cuidado com o homem que ele é perigoso", afirma o artilheiro.
Para ele, o Clássico-Rei que mais marcou sua carreira foi o que deu o título estadual de 71 ao Ceará, empate por 2 a 2. Já Mozarzinho escolhe a decisão de 1969 como seu jogo inesquecível. "Foi meu último clássico contra o Ceará. Ganhamos por 1 a 0, gol do Joãozinho, e fomos campões. Depois eu deixei o futebol".

Emais
- Em 1962, o confronto entre Ceará e Fortaleza ganhou manhete de O POVO com o nome de "Choque-Rei". Como o embate também era chamado simplesmente de "Clássico", com o tempo houve a junção para o conhecido Clássico-Rei.
- Em 9 de junho de 1962, o Ceará levou o título do primeiro turno do Estadual ao bater o Tricolor por 3 a 2. Detalhe: no mesmo dia, o Brasil vencia a Inglaterra por 3 a 1, pela Copa do Mundo do Chile. Hoje em dia, nenhum time se aventura a disputar jogos oficiais durante o Mundial.
- O jornalista Alan Neto não fica no muro e aponta quem, na opinião dele, foi melhor na disputa entre Mozarzinho e Gildo. "O Mozarzinho foi o maior craque que eu vi na minha vida. O Gildo era craque é goleador, que é diferente. Craque mesmo foi o Mozart", avalia Alan Neto.
- Mozarzinho atuou por três meses pelo Ceará, em 1966. Na época, Gildo defendia o América-SP. Mozart deixou logo o Alvinegro e voltou para o América, seu clube em 1964. Ele prefere não falar detalhes da passagem por Porangabuçu. "Rapaz, não gostaria de falar não", disse o craque.
- Os dois ex-jogadores condenam a violência que cerca hoje o Clássico-Rei, sobretudo a ação das torcidas organizadas. "Tinha sempre a rivalidade, mas não era como hoje. O mais importante era que as torcidas se uniam, acompanhavam o jogo juntas", diz Gildo. "Quem ganhava ficava gozando a torcida adversária e só", resume Mozart.
- Durante a entrevista, Gildo se emocionou ao relembrar os tempos de jogador. "O torcedor é fanático. Quando eu estava em campo e a torcida me aplaudia era muito bom. Isso me dá uma saudade tremenda".

Fonte: Jornal O Povo

sábado, 9 de agosto de 2008

Memória do Futebol Cearense - Um goleador chamado França

Conheça um pouco da história de Raimundo Araújo França, o primeiro grande atacante do futebol cearense. Detentor de recordes que duram até hoje, ele encantou as torcidas de Fortaleza e Ceará entre as décadas de 30 e 50


França com a camisa tricolor em 1940, ano em que alcançou a artilharia do Estadual pela primeira vez (Foto: Álbum de família/Reprodução Evilázio Bezerra)

Muito antes de Rinaldo, Clodoaldo, ou mesmo Gildo e Croinha, um homem foi o responsável por despertar nos corações dos cearenses o gosto pelo gol. Relegado hoje aos arquivos de pesquisadores e à memória de torcedores saudosistas, o nome de Raimundo Araújo França, o França, centroavante que atuou entre os anos 30 e 50, encabeça a lista dos grandes goleadores do futebol local. Alto, porém versátil; atlético, mas boêmio; levou a carreira em meio a dualidades, tanto que foi ídolo, artilheiro e campeão por Ceará e Fortaleza.
Só em um ponto o hoje enigmático França manteve trajetória retilínea nos mais de 20 anos nos gramados: o faro de gol. O atacante foi goleador por onde passou. Até hoje, 50 anos depois de ter abandonado os gramados, e quatro após sua morte, ostenta a marca de jogador mais vezes artilheiro em Estaduais. Foram cinco ocasiões, três pelo Leão (40, 46 e 47) e duas pelo Vovô (41 e 42).
Existem grandes chances de França ser o atleta que mais anotou gols em Estaduais. Os registros são incompletos e nem a Federação Cearense de Futebol (FCF) possui as fichas de todas as partidas. Contudo, apenas nos anos em que foi artilheiro, França marcou 67 vezes. A média nestas cinco edições é de impressionante 1,5 gol por partida - 67 em 43 jogos, conforme levantamento do pesquisador Nirez de Azevedo, no livro "História do Campeonato Cearense de Futebol", e constatação nas fichas dos jogos no arquivo de O POVO.
Segundo o jornalista Blanchard Girão, recentemente falecido, França iniciou no futebol aos 18 anos, em 1936, atuando pelo Tramways. Quatro anos depois, ingressou no Fortaleza, seu clube de coração e pelo qual alcançou a artilharia do Estadual daquele ano. Na temporada seguinte, transferiu-se com meio time para o Ceará. O pesquisador Airton Monte conta que a mudança veio devido a problemas do técnico do Leão, Valdemar Gavião, com a diretoria. No Vovô, França alcançou o bicampeonato em 41 e 42, com direito a mais duas artilharias.

No Rio de Janeiro

As boas atuações levaram o artilheiro para o Fluminense. Porém, na então Capital Federal, França não conseguiu repetir o bom retrospecto. Airton Monte acredita que a vida extra-campo pode ter prejudicado o atacante. "O França tinha tudo para ser um jogador reconhecido. Só que ele era muito farrista", avalia. Em seguida França atuou pelo Rio Negro (AM), onde começou os estudos em odontologia. A conclusão do curso veio no retorno ao futebol local, em 1946. De volta ao Tricolor, manteve a fama de goleador. Foi o artilheiro do ano e na temporada seguinte, sagrando-se bicampeão.
Pelo clube do Pici ainda conquistou os títulos de 49 e 54. França permaneceu no Leão até 57, atuando como jogador e treinador. Após abandonar a carreira prosseguiu no futebol como técnico mas não deixou de exercer a odontologia. O goleador faleceu em 2003, aos 85 anos. Ele foi casado com a também dentista Ivone e, após a morte da esposa, viveu até sua morte com a dona de casa Tereza. França tinha um filho de criação de nome Adriano e morava na Gentilândia. (colaborou o ex-jogador Luís de Arruda Veras)

E-MAIS

Conheça detalhes da carreira de França no livro "História do Campeonato Cearense", de Nirez de Azevedo. Fortaleza: Equatorial Produções, 2002.

NÚMEROS

5
vezes França foi artilheiro do Campeonato Cearense. Três pelo Fortaleza (1940, 46 e 47) e duas pelo Ceará (41 e 42).

1,5
gol por partida é o aproveitamento de França nos anos em que foi goleador do Estadual. São 67 gols em 43 jogos.


PERFIL

Nome: Raimundo Araújo França

Posição: centroavante

Nascimento: 16.1.1918, em Maracanaú

Falecimento: 5.1.2003, em Fortaleza

Times que defendeu: Tramways, Ginásio São João, Fortaleza, Ceará, Fluminense e Rio Negro (AM) e Seleção Cearense

Títulos: Seis vezes campeão cearense (41 e 42, pelo Ceará, e 46, 47, 49 e 54, pelo Fortaleza).

Artilharias: cinco vezes artilheiro cearense (40, 46 e 47, por Fortaleza, e 41 e 42, pelo Ceará).

"O Estilista"

Durante o auge da carreira, França ficou conhecido pelo apelido de "Estilista", devido a sua elegância em campo. "Era pela maneira de ele passar, de driblar. Apesar de grandalhão, o França era muito elegante", diz o pesquisador Airton Monte. Como volante do Gentilândia, Airton teve a missão de tentar marcar França na década de 50. "Disputar corpo a corpo com ele não tinha futuro. Eu tentava marcar a bola. Ele era pesadão, mas era um atleta", observa.
O jornalista Sílvio Carlos recorda que as iniciais do nome do jogador (RAF) eram constantemente utilizadas pelos jornais da época em alusão às ações da Força Aérea Britânica (Royal Air Force-RAF). "Os jornais brincavam muito com isso por causa da Segunda Guerra (Mundial). Sempre que ele marcava em algum jogo colocavam na manchete 'RAF bombardeia adversários'", comenta Sílvio Carlos, que foi presidente do Riachuelo quando França treinou a equipe, na década de 60.

E-mais

- França alcançou o feito de ser campeão mesmo depois de abandonar o futebol. Em 1954, já havia pendurado as chuteiras mas, como o Tricolor passava por problemas de ataque, voltou para reforçar o time. Marcou gols e ajudou o Leão a levantar o bicampeonato.

- Para o jornalista Alan Neto, colunista do O POVO, a saída de meio time do Fortaleza para o Ceará, em 1941, evidência a então pequena rivalidade entre os clubes. "O grande rival do Ceará era o Maguary, não o Fortaleza. Depois, a torcida do Maguary migrou para o Fortaleza", aponta.

- Mozarzinho acredita que França teria condições de atuar no futebol atual. "O futebol naquela época era muito técnico. Hoje em dia estão chutando bola com jogador e tudo. Ele jogaria futebol porque sabia, então jogaria em qualquer época. Só não teria tanto espaço".

Família de goleadores


Uma das formações do Tricolor bicampeão em 1954 - França no ataque (Foto: A história do Campeonato Cearense de Futebol (Nirez de Azevedo)/Reprodução Patrícia Araújo)

A família de França contabiliza incríveis nove artilharias de Campeonatos Cearenses. Além das cinco edições em que o jogador liderou a tábua de goleadores, mais dois integrantes do "clã" também inscreveram seus nomes entre os maiores atacantes do nosso futebol: seus sobrinhos Moésio, falecido em 1993; e Mozart Gomes, o Mozarzinho.
Moésio foi artilheiro três anos seguidos pelo Fortaleza, entre 1952 e 1954. Neste ano, chegou a formar linha de ataque com o tio. Mozarzinho alcançou a artilharia em 1964, pelo América. "Acho que é um dom da família. Não teve outra família que se destacou tanto no futebol", observa Mozarzinho, hoje com 68 anos.
Ele conta que o estilo de jogo dos sobrinhos era bem diferente do praticado por França. "O tio França era muito clássico, muito técnico. Nós (Mozarzinho e Moésio) jogávamos mais na base da raça, éramos mais ágeis", avalia. Mozarzinho diz que França sempre deu conselhos aos sobrinhos. "Ele foi um grande incentivador. Ele e o nosso pai (coronel Mozart Gomes), que era um torcedor fanático do Fortaleza".

Fonte: Jornal O Povo

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Memória do Futebol Cearense - Ferroviário 1968 - O último dos invictos.



Eclosão da Guerra do Vietnã, Primavera de Praga e rebeliões operário-estudantis na Europa. No Brasil, tanques militares tomam as ruas com a divulgação do Ato Institucional Nº5, enquanto a população responde em passeatas pelas principais cidades do País. O ano de 1968 passou mas, como se sabe, não acabou, deixando marcas até hoje na humanidade. E, guardadas as proporções, no futebol cearense também. Há exatas quatro décadas o Ferroviário Atlético Clube vencia o Campeonato Cearense de forma invicta.
O feito dos corais, que completa aniversário hoje, não foi repetido desde então. O Ferroviário dominou o ano, pautado por uma equipe equilibrada, em que despontavam os volantes Coca-Cola e Edmar, além do meia-atacante Lucinho. O time conquistou os dois turnos da competição sem uma derrota sequer - foram oito vitórias e seis empates nos 14 jogos da campanha. No jogo do título, pela última rodada do returno, empate por 1 a 1 com o Fortaleza, no estádio Presidente Vargas, em 28 de julho.
O jogo teve sabor especial. Afinal, o Tubarão deixara escapar o título do ano anterior justamente para o Leão, após vencer o primeiro jogo da decisão e perder os dois seguintes. Nesta nova decisão a equipe do técnico Ivonísio Mosca abriu o placar com João Carlos, de cabeça, aos 20min da etapa inicial. Croinha empatou para os leoninos aos 14min da etapa final. Mas o empate favorecia o Ferrão, desde que o Quixadá não vencesse o Guarany-S, fora de casa. A partida terminou em 4 a 4 e, com a combinação dos resultados, os ferroviários foram à desforra mantendo a invencibilidade e levando o título de modo arrastão.
Era o fim de um jejum de 16 anos sem campeonatos. E o início de uma festa que ficou marcada na época. O primeiro turno cearense de 68 foi bastante disputado entre Ferroviário, Ceará, Fortaleza, América (campeão estadual de 66) e Calouros do Ar (campeão de 1955). Para se ter ideia da competitividade, os citados quadros revezaram-se nas primeiras posições até a quinta rodada, quando o Ferrão e Calouros assumirama cabeça da tabela. Entretanto, o Calouros na última rodada tropeçou diante do Quixadá ao perder poer 1 x 0, dando de mão beijada o título ao Tricolor da Barra do Ceará.
No segundo turno, a disputa concentrou-se entre Ferroviário, Fortaleza e Calouros e o surpreendente Quixadá (time fundado na cidade do mesmo nome em 1965, a partir da fusão das equipes do Bangu e Avante). Apesar disso, o Ferrão ganhou merecidamente o turno e o título arrastão em novo empate com o Fortaleza, agora em 1 x 1, uma partida a qual o Peixe poderia inclusive ter goleado facilmente.
Nesse jogo, já aos 4 minutos, uma violenta bola de Coca-Cola chocou-se com o travessão superior da meta do goleiro Gilberto. O meio campo coral, composto por Edmar, Coca-Cola e Mano, infernizou a defensiva adversária no 90 minutos. E quando o Fortaleza tentou uma tímida reação, o goleirão tricolário Cavalheiro brilhou no arco. O Ferroviário marcaria seu tento aos vinte minutos da primeira fase: num escanteio bem executado por Raimundinho, João Carlos mergulhou de cabeça e violento, sem nenhuma chance para o goleiro do Fortaleza. Apenas aos 14 minutos do segundo tempo, o Leão empatou através de um lindo gol de Croinha de virada, numa das poucas falhas da zaga do tubarão.
A campanha do Peixe foi irrepreensível. A torcida lavou a alma! Verificaram-se 14 jogos, com 8 vitórias (entre as quais 4 x 0 Ceará, 4 x 1 América e 4 x 2 Messejana), 6 empates e nenhuma derrota, marcando 2y7 gols e sofrendo apenas 13. O Ferrão ganhou igualmente o título de campeão da disciplina (não teve um só atleta expulso em toda a disputa), da taça eficiência, teve maior arrecadação, melhor público, melhor defesa e ataque.
Segundo a edição de O POVO daquele dia, torcedores e atletas permaneceram no campo até a noite, para, em seguida, festejar nos dois grêmios ferroviários da cidade. “A festa foi grande demais. O Ferroviário não ganhava nada há muito tempo. Eu mesmo saí de campo só de cueca”, lembra o volante Edmar. Ele destaca a qualidade da equipe. “O time era uma maravilha, afinado, de toque. Tanto que foi campeão invicto”, conta Edmar, que hoje treina jovens no projeto Bola de Meia, no Parque São Miguel.
Outro jogador daquela equipe, o atacante Orlando Facó lembra que o final dos anos 60 foi um período bom para o clube. “A diretoria era composta por pessoas equilibradas, que fizeram um planejamento a longo prazo”, afirma. Um dos diretores era José Rego Filho. Ele pontua a austeridade administrativa, a disciplina e a participação de toda a classe ferroviária como fundamentais para a conquista do título de 1968. “Foi uma época muito boa, conseguimos muitos avanços”. Avanços lembrados até hoje, quarenta anos depois do “ano que não acabou”.

CAMPEONATO CEARENSE 1968

FERROVIÁRIO 1

Cavalheiro; Wellington, Flodoaldo (Luiz Paes), Gomes e Barbosa; Edmar e Coca Cola; Mano, Paraíba, João Carlos e Raimundinho (Lucinho). Técnico: Ivonísio Mosca de Carvalho

FORTALEZA 1

Gilberto; William, Zé Paulo, Renato e Carneiro; Ivan Frota (Fontoura), Joãozinho e Luciano Oliveira; Humaitá, Croinha e Alísio. Técnico: José Valdo

Local: estádio Presidente Vargas

Data: 28.7.1968

Árbitro: José Felício Lopes

Assistentes: Assis Furtado e Gilberto Ferreira

Público: 13.612 pagantes

Gols: João Carlos (20min 1ºT), pelo Ferroviário; e Croinha (14min 2ºT), pelo Fortaleza


Em pé: Edilson José, Gomes, Douglas, Wellington, Cavalheiro, Luís Paes, Roberto Barra Limpa, Barbosa, Coca-Cola; Agachados: Mano, Sanega, João Carlos, Ademir, Lucinho, Paraíba, Edmar, Raimundinho, Ubiratam.

CAMPANHA

1º Turno

14.2.68 Ferroviário 1 x 1 Quixadá

10.3.68 Ferroviário 3 x 3 Calouros do Ar

13.3.68 Ferroviário 2 x 1 Guarany-S

30.3.68 Ferroviário 2 x 1 Messejana

7.4.68 Ferroviário 4 x 1 América

14.4.68 Ferroviário 4 x 0 Ceará

28.4.68 Ferroviário 0 x 0 Fortaleza

2º Turno

26.5.68 Ferroviário 4 x 2 Messejana

5.6.68 Ferroviário 2 x 1 Guarany-S

19.6.68 Ferroviário 1 x 0 Quixadá

30.6.68 Ferroviário 0 x 0 América

7.7.68 Ferroviário 1 x 1 Ceará

14.7.68 Ferroviário 2 x 1 Calouros do Ar

28.7.68 Ferroviário 1 x 1 Fortaleza

ELENCO CORAL

Goleiros - Douglas, Cavalheiro e Edílson José

Laterais - Wellington, Barbosa e Roberto

Zagueiros - Flodoaldo, Gomes, Luiz Paes e Jurandir

Meias - Edmar, Coca Cola, Lucinho, Sanêga e João Carlos

Atacantes - Mano, Facó, Ademir, Paraíba e Raimundinho

Jogo das faixas com direito a Santos de Pelé

O jogo da entrega das faixas do Ferroviário campeão em 1968 contou com um convidado de peso: o supercampeão Santos. Em partida disputada no dia 4 de agosto, no estádio Presidente Vargas, o time santista, campeão paulista, entrou em campo com muitas de suas estrelas, entre elas a principal, o Rei Pelé.
A equipe se preparava para a disputa do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (similar ao Brasileirão), que venceria ainda naquele ano. O time contou com o goleiro Gilmar, o zagueiro Ramos Delgado, os meio-campistas Clodoaldo e Lima, além do ponta Pepe, só para citar algumas das “lendas” do alvinegro na década de 60. Os corais apostavam em Lucinho, Edmar e Coca-Cola.
Apesar dos bons jogadores nas duas equipes o resultado da partida festiva terminou sem gols. O volante coral Edmar afirma que o Rei chegou a intervir em lance capital da partida. “O juiz (Manuel Joaquim Ramos) marcou um pênalti duvidoso para o Santos e o Pelé mandou o Pepe chutar para fora”, conta Edmar. Contudo, há quem jure que o chute por cima do travessão se deu simplesmente porque Pepe bateu mal na bola.

Fonte:Jornal O Povo
Site do Ferroviário Atlético Clube
Livro: Ferroviário - Nos trilhos da vitória. Airtin Farias.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Memória do futebol cearense - Times operários


O campo do Bangu/RJ com a fábrica ao fundo.

Na década de 1930, surgiram os primeiros times fabris de Fortaleza, tais como: Sem Rival Sport Club, Graphico Esporte Clube, Estrela do Mar, Nacional, Tramways, Volante e o Ferroviário.

Dentre os times mencionados acima o Ferroviário foi o que obteve mais sucesso no campeonato cearense e será enfocado em outra oportunidade.

Nacional Atlético Clube

O time era mantido pelos trabalhadores dos Correios e Telégrafos, e foi fundado em 1942, ficou conhecido como equipe esmeraldina em razão de seu uniforme verde. Não guarda nenhuma ligação com o Nacional que existiu na da década de 20 no futebol cearense. O time participou de 15 edições da competição entre os anos de 1950 e 1966 mas nunca passou de figurante. Entre 54 e 59 ostentou o indigesto jejum de 47 jogos sem vitórias (não disputou o campeonato de 57). Foi extinto em 1967.

Sem Rival Sport Club

Organizado pelos associados da Sociedade Fênix Caxeiral, associação mutualista que congregava os caixeiros cearenses e possuía espaço notório na sociedade local. Disputou somente o campeonato cearense de 1931 e no ano seguinte encerrou suas atividades.

Volante Atlético Clube

Era o time dos motoristas de praça, e foi eliminado do único campeonato que disputou em 1950 por não pagar taxas a Federação.

Estrela do Mar Foot-ball Club

Time dos marinheiros do cais do porto, que surgiu em 1938, tinha as cores verde e amarelo, e seu presidente era Fernando Nunes Carneiro, segundo Nirez (História do Futebol Cearense). Também, teve vida curta, disputou apenas os campeonatos de 1937, 38 e 39, ano em que foi vice-campeão.
Neste ano o campeão foi o Ceará Sporting Club, invicto.
O Estrela do Mar juntamente com o Ferroviário protagonizaram a realização do primeiro jogo noturno do estado do Ceará, que ocorreu em 28 de setembro de 1939, O jornal O Povo do dia seguinte relatou o jogo assim:

“Com a imponentíssima noitada de ontem, no Campo do Prado (atual CEFET), estão de parabéns a A.D.C., o Ferroviário, o Estrela do Mar e sobretudo o nosso público desportivo, que teve ensejo de assistir à partida máxima do ano, numa atmosfera de absoluta ordem e extraordinária vibração.
A iluminação do campo, conforme prevíramos excedeu a todas as expectativas. Os refletores jorravam luz em abundância sobre a velha praça de esportes, permitindo que a assistência observasse os mínimos detalhes da pugna com absoluta nitidez. Não houve uma voz discordante sobre o êxito do empreendimento.”


Em tempo, o placar foi de Ferroviário 2 x 1 Marítimos(Estrela do Mar)

Tramways Sport Club



O Tramways era um time formado pelos funcionários da Ceará Tramway Light Co., companhia que fornecia eletricidade e mantinha linhas de bonde e ônibus da capital do Ceará. Sua primeira participação foi no Estadual em 1939 organizado pela ADC – Associação de Desportos Cearenses. O Tramways foi o primeiro time organizado a partir de operários que ganhou o título de campeão cearense de futebol (1940), no ano seguinte a sua fundação.
Sobre o título de 1940, conquistado pelo Tramways, pode-se dizer que sua campanha foi espetacular. Os jogadores da companhia de Luz e Bondes da cidade desfizeram a má impressão da primeira temporada, na qual amargaram sete derrotas em 11 jogos. Conquistaram o título de 40 como campeão invicto, faltando cumprir ainda três jogos já era campeão, razão pela qual o término do torneio foi antecipado.
Em 1941 encerrou as atividades por não ter condições de manter o pagamento dos jogadores.



Campanha em 1940

23.05.1940
TRAMWAYS 5-2 PEÑAROL, em Fortaleza
16.06.1940
TRAMWAYS 2-1 FORTALEZA, em Fortaleza
29.06.1940
TRAMWAYS 1-3 AMÉRICA, em Fortaleza
04.07.1940
TRAMWAYS 4-1 MAGUARI, em Fortaleza
04.08.1940
TRAMWAYS 3-1 CEARÁ, em Fortaleza
25.08.1940
TRAMWAYS 0-0 FERROVIÁRIO, em Fortaleza
05.09.1940
TRAMWAYS 1-1 MAGUARI, em Fortaleza
19.09.1940
TRAMWAYS 4-1 AMÉRICA, em Fortaleza
29.09.1940
TRAMWAYS 4-3 FORTALEZA, em Fortaleza
06.10.1940
TRAMWAYS 3-0 FERROVIÁRIO, em Fortaleza
27.10.1940
TRAMWAYS 3-1 CEARÁ, em Fortaleza
02.11.1940
TRAMWAYS 5-3 FERROVIÁRIO, em Fortaleza
05.01.41
TRAMWAYS 2-0 FORTALEZA, em Fortaleza
23.01.41
TRAMWAYS 3-0 AMÉRICA, em Fortaleza
30.01.41
TRAMWAYS 2-0 MAGUARI, em Fortaleza

15 JOGOS
12 VITÓRIAS
02 EMPATES
01 DERROTA
42 GOLS MARCADOS
17 GOLS SOFRIDOS
Tramway Campeão Cearense de 1940.

Usina Ceará Atlético Clube



Esta equipe foi fundada em 01 de setembro de 1949, pelos funcionários da Indústria Textil Siqueira Gurgel Companhia Limitada, que ficava no Bairro de Otávio Bonfim, Fortaleza/CE, tendo como cores oficiais o azul e branco. A sua função inicial era promover atividades desportivas entre seus funcionários, em especial o futebol.
A equipe disputou o Campeonato Cearense entre os anos de 1953 e 1964 sempre com belas campanhas. Por pouco não conquistou um título - foi vice-campeão em quatro ocasiões.
No ano de 1957, o Ceará e o Usina, vencedores dos turnos, partem para uma melhor de 3com o Ceará vencendo a 1ª. Na semana que antecede o 2º jogo, o Ceará pede adiamento da partida, alegando que 9 atletas pegaram a famosa (na época) gripe asiática. Com a negativa da FCD, diante os boatos que o interesse era recuperar 3 atletas contundidos, o Ceará teve que entrar em campo sem os "asiáticos", contando apenas com Bira e o goleiro Ivan de atacante. Resultado, Usina 1x0. Na 3ª e decisiva partida, vence o Ceará com o famoso gol de mão de Honorato.
Em 1962, o campeonato teve 3 turnos. Os vencedores foram pela ordem Ceará, Usina e Fortaleza. No triangular decisivo o Usina estreiou com o Ceará, 1x1, depois jogou com o Fortaleza, 2x2. O 3º jogo não acabou por causa de 8 expulsões, 7 do Fortaleza. O placar acusava 3x1 Ceará.
A derrocada do Usina deu-se com a chegada do Regime Militar. O dono da fábrica, o então deputado federal Moyses Pimentel, se opôs aos militares e teve o mandato cassado no ano de 1965. Com a perseguição, o departamento de futebol do Time Fabril foi desfeito.
Entre as principais conquistas do clube no futebol, estão:

Campeão da Copa Suburbana em 1950
Campeão da Torneio Companhia Johnsen em 1951
Campeão da 2ª divisão em 1951
Campeão do Torneio Início em 1954
Campeão do Torneio Quadrangular disputado com América, Fortaleza e Ceará em 1955
Vice-campeão cearense em 1961 e 1962

Memória do Futebol Cearense – Ceará Campeão do Norte-Nordeste 1969


Formação do Ceará campeão do Norte-Nordeste de 1969

Um título em 45 minutos.

Tic-tac-tic-tac-tic-tac... Intervalo de jogo. A cada segundo o sonho de fazer história ia se esvaindo pelas mãos dos alvinegros. Era impossível imaginar que o tão almejado Torneio Norte-Nordeste estava sendo perdido no Presidente Vargas lotado, e justo daquela maneira! Mas o apressado ponteiro do relógio naquele 19 de dezembro de 1969 não deixava dúvidas, o segundo tempo ia começar e o Ceará precisava virar o placar de 1 a 0 para o Remo(PA) se quisesse sobrevida na série final - os remistas venceram o primeiro jogo (2 a 1), em Belém, e o Vovô buscava dar o troco na volta para gerar uma terceira partida, também em Fortaleza.

Tic-tac-tic-tac-tic-tac... Etapa final. A bola volta a rolar e o Ceará parte para o ataque. Gildo, Zezinho, Magela, Chicletes, os alas, meias, pontas, enfim, o PV inteiro sufocava o Remo. Mas tudo aparentemente em vão. A situação complicou ainda mais quando, aos 10min, o meia remista Ìris, que já marcara o primeiro gol, balançou novamente as redes. Àquela altura os paraenses tinham praticamente as duas mãos na taça. E nada do Ceará chegar ao gol! Parte da torcida deixava o estádio e o relógio continuava correndo.

Tic-tac-tic-tac-tic-tac... 22 minutos. Em campo o time seguia lutando e foi recompensado com um gol de Magela. Corre, pega a bola no fundo da rede, acena pra torcida, e devolve a pelota para o meio-campo. "Só" faltava metade de um tempo para a equipe tentar a virada. Com o apoio das arquibancadas de volta, a pressão contra os remistas foi aumentando à medida que o tempo passava.

Tic-tac-tic-tac-tic-tac... 32 minutos. Duas chances claras foram perdidas até que Zezinho transformou o PV numa grande panela de pressão alvinegra: 2 a 2 no placar. Repete-se a cena do primeiro gol, pega a bola, corre, acena, torcida, meio-campo, não necessariamente nessa ordem. Agora, "ainda" restavam treze para mais um golzinho, que levaria o time à vitória.

Tic-tac-tic-tac-tic-tac... 43 minutos. A sobrevida na competição dependia de um gol e as luzes do PV já estavam para apagar. Então, eis que o camisa nove fez a diferença. Gildo aproveita cobrança de escanteio, a bola vem alçada na área e ele sobe mais do que a zaga. Testa de jeito, com a parte central da cabeça. A bola parte como uma bala em direção ao gol. E passa por entre as mãos do goleiro remista François. O impossível acontecera. O Ceará virara o jogo para delírio do PV mais do que lotado nessa hora (os portões haviam sido abertos).

Tic-tac-tic-tac-tic-tac... minutos finais. O relógio, antes vilão, agora se transformara em amigo do peito. Chuta pra fora, embarca a bola, pede pro juiz terminar o jogo. O Remo tenta um último esforço, mas em vão. Final de jogo: Ceará 3 a 2. Êxtase de um lado e decepção total do outro. Dali a dois dias as duas equipes voltavam ao mesmo PV, novamente lotado, para a terceira partida da final. Mas, daquela vez, a história foi diferente. E o Vovô levou o Norte-Nordeste com fáceis 3 a 0. A verdadeira decisão acontecera nos 45 minutos finais daquele 19 de dezembro. Numa das maiores páginas do futebol cearense.

TORNEIO NORTE-NORDESTE

Ficha técnica dos jogos do Ceará.

07/09/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 3 x O Fortaleza, teve como árbitro o Sr. José Felício. A renda foi de NCr$ 16.902,00, os gols foram de Louro (2) e Zezinho. Escalações : CEARÁ - Ita, Daniel, Nivaldo, Artur, Carlindo, Osmar, Magela, Dote, Zezinho, Gildo (Wilson) e Louro (Didi). Fortaleza - Gil¬berto, William, Zé Paulo, Renato, Luciano Abreu, Frota, Joãozinho (Zé Augusto), Lucinho, Mozart, Erandy e Alísio (Mimi).

14/09/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 1 x O ABC, arbitrado pelo Sr. Afrânio Messias. A renda foi de NCr$ 18.686,00 e o gol foi assinalado por Gildo. Escalações : CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Osmar, Gojoba, Dote, Gildo, Zezinho e Didi Goacy}. ABC (RN) - Erivan, Gaspar, Piaba, Ivan Matos, Cid, Arandir, Esquerdinha, Izulamar (Zito), Albery, João Galêgo e Burunga.

21/09/1969 - No estádio Juvenal Lamartine, em Natal (RN), América 2 x 2. CEARÁ, com arbitragem do Sr. Genival Batista. Os gols foram de Zezinhoe Joacy; Alemão e Déo. Escalações : América (RN) - Odair, Nino, Cláudio, Nivaldo, Nilton; Xuxa, Veschio (Adeildo), Bazinho, Alemão, Evaldo (Zé Irineu) e Déo. CEARA - !ta, Damel (Nivaldo), Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Dote, Zezinho, Gilda e Louro Goacy).

24/09/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 2 x O Sport, tendo como árbitro o Sr. Bartolomeu Lardelo. A renda foi de NCr$ 18.471,00 e os gols foram marcados por Gilda (07 mino do 20 tempo) e Louro (32 mino do 20 tem¬po). Escalações : CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela (Didi), Dote, Gildo, Zezinho e Louro (Wilson). Sport (PE) - Miltão, Zequinha, Bibiu, Zecão, Altair, Dandô, Soares, Fernando Lima, Néo, Duda e Jarbas "Tonel".

01/10/1969 - Em Campina Grande (PB), Treze 1 x 3 CEARÁ, arbitrado pelo Sr. Luis Meireles. Os gols foram de Wilson (2) e Louro; Toinho. Escalações : Treze (PB) - Edmilson, Janca, Zé Preto, Valter, Valdecy, Pedrinho, Dedé, Lima, Toinho, Zé Luis e Nide. CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Dote, Zezinho, Gildo (Wilson) e Louro (Joacy).

05/10/1969 - Em João Pessoa (PB), Botafogo 1 x 2 CEARÁ, teve como árbitro o Sr. Erilson Gouveia. Os gols foram de Nininho, para o time local; Dote e Zezinho, para o "Mais Querido". Escalações : Botafogo (PB) - Fernando, Lúcio Mauro, (?) , Jório, Zezito, Simplício, Valdecir Santana, (?) , Nininho, Lelé e Nogueira. CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Antonino, Carlindo(Zezinho), Gojoba, Dote, Wilson, Gildo e Louro.

16/11/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ O X O Fortaleza, teve como árbitro o Sr. Leandro Serpa. A renda foi de NCr$ 35.353,00, tendo um público pagante de 12.678 pessoas. Escalações : CEARÁ - Ita, Damel, Cícero, Laudenir, Antonino, Osmar, Magela (Didi), Gildo, Zezinho, Chiclets (Marcos) e Louro. Fortaleza - Cícero, William, Zé Paulo, Frota, Luciano Abreu, Lucinho, Joãozinho, Alísio (Amorim), Erandy, Alcir e Mimi (Mozart).

29/10/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 3 x 2 Botafogo (PB), arbitrado pelo Sr. Valquir Pimentel. A renda foi de NCr$ 15.159,00, o público pagante de 5.464 pessoas e os gols marcados por Gojoba,Wilson e Zezito ("contra"); Chico e Simplício. Escalações : CEARÁ - !ta, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Osmar: Gojoba, Dote (Antonino), Wilson, Zezinho e Louro. Botafogo (PB) _ Fernando (Lula), Lúcio, Iando, Jório, Zezito, Nininho, Santana, Chico, Liminha (Simplício), Lelé e Pibo.

02/11/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 2 x O América (RN), cujo árbitro foi o Sr. Sena Muniz. A renda foi de NCr$ 13.935,00 e os gols foram de Didi e Edmilson. Escalações : cEARÁ -Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Antonino, Gojoba, Osmar, Edmilson, Wilson, Marcos (Zé Raimundo) e Didi. América (RN) - Odair, Pirangi, Claudio, Lolô (Nilton), Souza, Déo, Odisser, Assis, Ale¬mão, Talvanes (Ireno) e Lia.

09/11/1969 - No estádio da Ilha do Retiro, em Recife (PE), Sport O x 2 CEARÁ teve como árbitro o Sr. Carlos Costa. A renda foi de NCr$ 13.951,00 e os gols do "Alvinegro Mais Querido" foram de Bibiu ("contra" - aos 37 min.) e Gildo (40 min.). Escalações ; Sport (PE) - Miltão, Baixa, Bibiu, Gilson, AItair, Capitão (Soares), Duda, César Rebelo (Néo), Tonel, Câmpora e Fernando Lima. CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Cartindo, Gojoba, Osmar (Magela), Gildo, Chiclets (Wilson), Zezinho e Didi.

20/11/1969 - Pela Fase Semifinal do "Nordestão" - que teve como classificados o CEARA (em 2° lugar), Sport (PE), CSA (AL) e Galícia (BA) - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 2 x O Sport, o árbitro. foi o Sr. Luis Cados Félix. A renda foi de NCr$ 21.446,00, público pagante de 7.728 pessoas e os gols foram marcados por Didi (15 mino do 2° tempo) e Gildo (32 mino do 2° tempo). Escalações : CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Osmar, Gildo (Wilson), Zezinho (Chiclets) e Didi. Sport (PE) - Miltão, Waldecir, Zelão, Baixa, Zequinha, Dandô, Soares, Renê, César Rebelo (Néo), Zezinho e Fernando Lima.

24/11/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 3 x O CSA, tendo como árbitro o Sr. Guálter Portela Filho. A renda foi de NCr$ 26.033,00 e os gols foram assinalados por Didi, Gildo e Magela. Escalações : CEARÁ - Ita Uurandir), Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Osmar, Zezinho (Chiclets), Gildo e Didi. CSA (AL) - Zé Luis, Ciro, Dida, Paranhos, Barbosa, Deba, Erik, Odacir (Déo), Zé Luis I (Ratinho), Giraldo e Petrúcio.

27/11/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 1 x 1 Galícia, arbitrado pelo Sr. Carlos Floriano Vidal. A renda foi de NCr$ 38.606,00 e o público pagante de 13,505 pessoas, os gols foram de Didi e Valtinho. Escalações : CEARÁ - Ita, Daniel (Esteves), Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Osmar, Zezinho, Gildo e Didi (Louro). Galícia (BA) - Adilson, Roberto, Almir, Netinho, Touro, Deco, Chiquinho, Gijo (Nélson), Valtinho, André e Telê.

30/11/1969 - No estádio da Ilha do Retiro, em Recife (PE), Sport 2 x 2 CEARÁ, arbitrado pelo sr. Carlos Floriano. A renda foi de NCr$ 9.451,00 e os gols foram de Néo (2); Zezinho e Chiclets. Escalações : Sport (PE) - Miltão, Valdeci, Bibiu, Gilson, Altair, Capitão, Válter, Renê (Zezinho), Néo, Câmpora (Tuta) e Fernando Lima. CEARÁ - Ita, Antonino, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Dote, Zezinho, Gildo (Chiclets) e Didi.

03/12/1969 - No estádio Otávio Mangabeira (Fonte Nova), em Salvador (BA.}, Galícia 2 x 2 CEARÁ, teve como árbitro o sr. José Aldo Pereira. A renda foi da NCr$ 18.640,00, com público pagante de 4.205 pessoas e os gols foramds Valtinho e Cícero (contra); Zezinho (2). Escalações : Galícia (BA) - Adilson, Antônio, Almir, Nelinho, Touro, Deto, Déri, Nélson, André, Valtinho e Gijo (Telê). CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Magela, Dote (Chiclets), Zezinho, Gildo e Didi (Wilson).

07/12/1969 - Em Maceió (AL), CSA 2 x O CEARÁ, o árbitro do jogo foi o sr. Aldo Pereira. Escalações : CSA (AL) - Zé Galêgo, Ciro, Dida, Paranhos, Barbclsa, Deba, Erik; Ratinho, Giraldo, Alderico e Petrúcio. CEARÁ - Ita, Daniel, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Osmar, Gildo, Zezinho e Didi.

obs.: este jogo acabou aos 27 mino do 20 tempo, quando o árbitro marcou uma penalidade contra o CSA e o campo foi invadido pela diretoria do time alagoano. O árbitro foi agredido e suspendeu a partida por "falta de segurança". CEARÁ termina em 1º lugar na Etapa Semifinal- Zona! Nordeste: está classificado para a "grande final" contra o Clube do Remo.

17/12/1969 - Em Belém (PA), no estádio Evandro Almeida, Remo 2 x 1 CEARÁ, arbitrado pelo Sr. Guálter Portela Filho. A renda foi de NCr$ 42.893,00, o público pagante de 11.534 pessoas e os gols foram marcados por Rubilofa (07 lUÍn. do 1° tempo) e Neves (20 mino do 2° tempo); Marcos (28 mino do 2° tempo), descontou para o "Alvinegro de Porangabuçu". Escalações : Remo (PA) - François, Mesquita, China, Nagel, Luciano Oliveira, Angeli Tavares, Carlitinho, Birungueta, Zequinha, Rubilota (Siretô) e Neves. CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Dote (Chiclets), Zezinho, Gildo e Didi (Marcos).

19/12/1969 - No estádio Presidente Vargas, "em uma virada espetacular - sob todos os aspectos : SENSACIONAL .. ." . um jogo inesquecível - CEARÁ 3 x 2 Remo, arbitrado pelo sr. José Mário Vinhas. Os gols foram marcados por Iris (37 mino do 1° tempo e 10 mino do 2° tempo); Magela (22 mino do 2° tempo), Chiclets empatou (32 mino do 2° tempo) e Gildo deu a vitória desse jogo antológico já no apagar da luzes (43 mino do 2° tempo). Escalações : CEARÁ - Ita, Damel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Dote (Chiclets), Gildo, Zezinho e Marcos (Osmar). Remo (PA) - François, Mesquita (Edilson), China, Nagel, Lúcio Oliveira, Ângelo, Carlitinho, Birungueta, Robilota, lrís (Silva) e Neves.

21/12/1969 - No estádio Presidente Vargas, CEARÁ 3 x O Remo, teve como árbitro o sr. Romualdo Arpi Filho. A renda foi de NCr$ 62.673,00 e os gols que deram a vitória fantástica ao "Alvinegro Mais Querido do Norte-Nordeste" fo¬ram de Gilda (sempre ele ... ), Magela e Zezinho. Escalações : CEARÁ - Ita, Daniel, Cícero, Laudenir, Carlindo, Gojoba, Magela, Osmar, Gildo, Chiclets e Zezinho (Didi). Remo (PA) - François, Mesquita, Edilson, Nagel, Lúcio Olivei¬ra, Ângelo (Siretô), Carlitinho, Birungueta, Iris, Robilota e Neves (Osmar). O "Glorioso de Porangabuçu - o Alvinegro Mais Querido do Estado" é CAMPEÃO do TORNEIO NORTE - NORDESTE de 1969. O "técnico" do CEARÁ nesta brilhante campanha foi o Sr. Arílton Ramos.

"Saí vibrando tanto que desmaiei"

"Foi muita emoção. Eu saí vibrando tanto que desmaiei". O desmaiado no caso era Gildo Fernandes de Oliveira, camisa nove do Ceará no Norte-Nordeste de 1969 e autor do gol que deu a vitória ao Vovô no segundo jogo da decisão contra o Remo. O ex-jogador lembra que pressentiu a oportunidade de anotar o gol histórico ainda quando a bola viajava em direção à área, em busca de sua cabeçada mortal.

"A bola veio de curva e foi descaindo, no meio da área, entre o pênalti e a pequena área. Aí eu senti que podia pegar bem nela. Subi e cabeceei com a parte central da cabeça. A bola passou no meio dos braços do goleiro", relembra.

Gildo destaca o papel do técnico Arílton Ramos na condução do Vovô à vitória contra os remistas. "Ele foi o grande artífice daquilo tudo. No intervalo, deixou a gente tranqüilo, dizendo que devíamos jogar da mesma maneira, porque a gente estava melhor em campo", revela. O goleador ressalta ainda o papel da torcida na virada do placar. "A torcida estava animada, depois dos dois a zero, começaram alguns a sair, mas depois que marcamos o pessoal voltou com tudo", conta.

Ele diz que após a sofrida vitória a conquista do título no terceiro jogo, dois dias depois "foi fácil, fácil". "Quando a gente ganhou o segundo jogo sabia que ninguém tirava o título mais da gente". Hoje, Gildo é mal utilizado no Ceará, atuando como olheiro das categorias de base do clube. (CC)

E-MAIS

O Ceará iniciou a campanha tendo como técnico o ex-goleiro Gilvan Dias, já falecido. Depois, Arílton Ramos assumiu o comando alvinegro.

O Fortaleza ficou em terceiro no grupo 2 e deu adeus à disputa. No ano seguinte a equipe tricolor levou o título, batendo o Sport Recife.

Durante a semana que antecedeu os jogos com o Remo, o Ceará realizou amistoso contra o Flamengo, no PV. Venceu por 1 a 0, gol de Marcos, o que levou O POVO a destacar: “Nem o Mengo escapou do embalo do Ceará”.

O árbitro desta partida, Adelson Julião, “pousou” de pára-quedas no campo pouco antes do início do amistoso.

O Ceará poderia ter conseguido um bom resultado no primeiro jogo da final contra o Remo. O atacante Didi acabou desperdiçando pênalti quando o ainda estava em branco. No final, os remistas venceram por 2 a 1.


Manchete de O POVO de 22 de dezembro de 1969. Cobertura do jogo teve três páginas da edição

A campanha do Ceará no Torneio do Norte-Nordeste de 1969 é de fazer inveja a temporadas medíocres que o clube coleciona em âmbito nacional nos últimos anos. Atuando contra a maior parte das forças da região o Alvinegro alcançou, em 21 jogos disputados, doze vitórias, seis empates e três derrotas - sendo uma delas em jogo contra o CSA que não chegou a terminar por falta de segurança.

Na primeira fase, o Vovô figurou no Grupo 2 do Zonal Nordeste, ao lado do tradicional rival Fortaleza, dos potiguares América e ABC, dos paraibanos Treze e Botafogo e do Sport Recife favorito ao título. O regulamento previa que as duas primeiras equipes ao final dos jogos de ida e volta, todos contra todos, passavam para a Fase Final. O Sport manteve o favoritismo alcançando a liderança com 19 pontos, quatro a mais do que o Vovô, classificado em segundo.

Na Fase Final o Ceará assumindo a ponta de cara. Venceu de cara Sport e CSA(AL) em casa. Depois empatou com Galícia (BA), no PV e na Bahia, e com Sport, em Recife. Na última rodada perdeu para o CSA em jogo que gerou até a prisão do juiz. O Vovô foi considerado vencedor do jogo, levando o título da chave Nordeste. Depois foi a hora de encarar o Remo, ganhador da chave Norte, e fazer história.

Juiz marca pênalti e é preso

Reclamar de marcações dos árbitros de futebol já era hábito de boleiros, cartolas e torcedores muito antes de 1969. Mas, nesse ano, um fato envolvendo o Ceará extrapolou todos os limites. Pela primeira vez na história do futebol, um árbitro foi agredido em campo e (pasmem!)deixou o estádio preso.

O incidente aconteceu na partida entre Ceará e CSA, pela última rodada da Fase Final do Zonal Nordeste, em Maceió. Os alagoanos - que venciam o jogo por 2 a 0 - protestaram quando o árbitro carioca José Aldo Pereira assinalou pênalti para o Vovô, aos 30min da etapa inicial. Jogadores cercaram o juiz, o técnico Barbosa entrou no gramado e agrediu José Aldo, fato que foi seguido por alguns torcedores, para, só aí, a polícia resolver intervir em favor do árbitro, conforme relato de O POVO na época.

Mas o pior ainda estava por vir. Quando deu a partida por encerrada, por falta de segurança, José Aldo recebeu voz de prisão do presidente do CSA, Cel. Nilo Floriano. Precisou deixar o estádio mais de uma hora depois para prestar depoimento na delegacia. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), antecessora da CBF, não julgou o caso porque, independente do resultado do jogo, o Ceará já havia conquistado a chave Nordeste - o vice-colocado, Galícia, empatara no mesmo dia com o Sport e não ultrapassou o Vovô em pontos.

Ficha técnica do torneio.


Em pé; Daniel, Ciecero, Ita, Gojoba, Laudenir, Carlindo; agachados: Lima, Chiclets, Gildo, Magela e Zezinho.

Brasil - Torneio Norte-Nordeste 1969
Participantes
ABC Futebol Clube (Natal-RN)
AMÉRICA Futebol Clube (Natal-RN)
Associação Desportiva CONFIANÇA (Aracaju-SE)
BOTAFOGO Futebol Clube (João Pessoa-PB)
CEARÁ Sporting Club (Fortaleza-CE)
Centro Sportivo Alagoano - CSA (Maceió-AL)
Club Sportivo SERGIPE (Aracaju-SE)
Clube de Regatas Brasil - CRB (Maceió-AL)
Clube do REMO (Belém-PA)
Clube NÁUTICO Capibaribe (Recife-PE)
Esporte Clube FLAMENGO (Teresina-PI)
FEIRA Tênis Clube (Feira de Santana-BA)
FERROVIÁRIO Esporte Clube (São Luís-MA)
FORTALEZA Esporte Clube (Fortaleza-CE)
GALÍCIA Esporte Clube (Salvador-BA)
MARANHÃO Atlético Clube (São Luís-MA)
Nacional FAST CLUBE (Manaus-AM)
NACIONAL Futebol Clube (Manaus-AM)
OLÍMPICO Clube (Manaus-AM)
PAYSANDU Sport Club (Belém-PA)
PIAUÍ Esporte Clube (Teresina-PI)
RIVER Atlético Clube (Teresina-PI)
SAMPAIO CORRÊA Futebol Clube (São Luís-MA)
SPORT Clube do Recife (Recife-PE)
TREZE Futebol Clube (Campina Grande-PB)
TUNA LUSO Brasileira (Belém-PA)


ZONA NORTE

Primeira fase

Grupo 1

[Sep 28] - Ferroviário 1-0 Maranhão, Piauí 3-1 River

[Oct 1] Flamengo 2-1 River

[Oct 5] Ferroviário 3-1 Sampaio Corrêa, Flamengo 3-2 Piauí

[Oct 10] Piauí 5-2 Maranhão

[Oct 12]Sampaio Corrêa 1-1 River, Flamengo 4-2 Maranhão

[Oct 15]Flamengo 2-1 Sampaio Corrêa

[Oct 16] Ferroviário 2-1 River

[Oct 19] Ferroviário 0-2 Flamengo, Piauí 2-1 Sampaio Corrêa

[Oct 22]Ferroviário 2 -0 Piauí, River 2-1 Maranhão

[Oct 26] Maranhão 1-1 Sampaio Corrêa, River 3-3 Piauí

[Oct 29] Flamengo 3-1 River

[Oct 30] Maranhão 2-1 Sampaio Corrêa

[Nov 1] Ferroviário 3-0 Sampaio Corrêa, Flamengo 1-0 Piauí

[Nov 5] Maranhão 2-1 Piauí

[Nov 6] River 3-1 Ferroviário

[Nov 9]Maranhão 0-3 Flamengo, River 1-3 Sampaio Corrêa

[Nov 12] Sampaio Corrêa 2-1 Flamengo

[Nov 16] Sampaio Corrêa 2-0 Piauí, Flamengo 0-0 Ferroviário

[Nov 19] Maranhão 3-5 River, Piauí 1-2 Ferroviário

Ferroviário n/p Maranhão

Tabelas

Subgrupo A
1-Flamengo 10 8 1 1 21- 9 17
-----------------------------------------
2-River 10 3 2 5 19-22 8
3-Piauí 10 3 1 6 17-19 7

Subgrupo B
1-Ferroviário 9 6 1 2 14- 8 13
-----------------------------------------
2-Sampaio Corrêa 10 3 2 5 13-16 8
3-Maranhão 9 2 1 6 13-23 5


Grupo 2

[Sep 24] Nacional 2-1 Olímpico, Tuna Luso 1-0 Remo

[Sep 28] Olímpico 2-1 Fast Clube, Paysandu 3-0 Nacional

[Oct 1] Remo 3-0 Nacional

[Oct 2] Fast Clube 1-1 Paysandu

[Oct 5] Olímpico 1-1 Paysandu, Tuna Luso 1-1 Nacional

[Oct 8] Nacional 2-1 Paysandu, Remo 2-1 Fast Clube

[Oct 11] Tuna Luso 2-1 Fast Clube,

[Oct 12] Olímpico 0-1 Remo

[Oct 15] Nacional 1-2 Remo, Paysandu 4-2 Fast Clube

[Oct 19] Tuna Luso 2-2 Paysandu, Fast Clube 1-3 Remo

[Oct 22] Olímpico 1-1 Tuna Luso

[Oct 23] Remo 1-1 Paysandu

[Oct 26] Fast Clube 0-4 Tuna Luso, Paysandu 2-0 Olímpico

[Oct 29] Nacional 1-0 Tuna Luso, Remo 4-0 Olímpico

[Nov 1] Nacional 1-1 Fast Clube, Tuna Luso 4-1 Olímpico

[Nov 5] Nacional 1-0 Olímpico, Remo 2-1 Tuna Luso

[Nov 9] Olímpico 1-0 Fast Clube, Remo 1-0 Paysandu

[Nov 12] Fast Clube 3-1 Nacional

[Nov 16] Paysandu 0-0 Tuna Luso

Tabelas

Subgrupo A
1-Remo 10 8 1 1 19- 6 17
----------------------------------------
2-Tuna Luso 10 4 4 2 16- 9 12
3-Paysandu 10 3 5 2 15-10 11

Subgrupo B
1-Nacional 10 4 2 4 10-15 10
----------------------------------------
2-Olímpico 10 2 2 6 7-17 6
3-Fast Clube 10 1 2 7 11-21 4

Final Fase

[Nov 23] Ferroviário 2-0 Nacional, Flamengo 0-1 Remo

[Nov 26] Ferroviário 0-2 Remo, Flamengo 1-0 Nacional

[Nov 30] Remo 1-1 Nacional, Flamengo 1-1 Ferroviário

[Dec 3] Nacional 3-0 Ferroviário, Remo 2-0 Flamengo

[Dec 7] Nacional 1-1 Flamengo, Remo 1-2 Ferroviário

[Dec 10] Nacional 2-2 Remo, Ferroviário 2-0 Flamengo

Tabela
1-Remo 6 3 2 1 9- 5 8
----------------------------------------
2-Ferroviário 6 3 1 2 7- 7 7
3-Nacional 6 1 3 2 7- 7 5
4-Flamengo 6 1 2 3 3- 7 4


ZONA NORDESTE

Primeira Fase

Grupo 1

[Sep 6] Confiança 2-1 Sergipe

[Sep 14] CRB 3-1 Náutico

[Sep 17] CSA 2-3 Náutico

[Sep 18]Sergipe 0-0 CRB, Feira 0-3 Confiança

[Sep 21] CSA 2-1 Sergipe, Confiança 0-2 Náutico, Feira 2-5 Galícia

[Sep 24] Confiança 1-1 CSA, Feira 1-1 CRB

[Sep 28] CSA 1-0 CRB, Confiança 2-4 Galícia, Feira 0-0 Náutico

[Oct 1] CSA 3-3 Feira, Sergipe 1-0 Náutico

[Oct 2] CRB 1-1 Galícia

[Oct 5] CSA 3-2 Galícia, Sergipe 0 -0 Feira

[Oct 9] Náutico 0-1 Galícia, Confiança 2-3 CRB

[Oct 12] CRB 1-1 Feira, Sergipe 0-2 Galícia

[Oct 19] CSA 2-1 CRB, Sergipe 1-0 Confiança

[Oct 22] Náutico 0-1 Feira, CSA 5-0 Confiança

[Oct 26] Náutico 1-0 CRB, CSA 2-0 Feira, Galícia 5-0 Sergipe

[Oct 29] CRB 4-2 Sergipe, Confiança 0-0 Feira, Galícia 2-0 Náutico

[Nov 2] CRB 5-2 Confiança, Sergipe 2-0 CSA, Galícia 2-1 Feira

[Nov 5] Náutico 4-1 Confiança, Sergipe 0-2 Feira

[Nov 7] Galícia 6-0 CRB

[Nov 9] Náutico 2-2 Sergipe

[Nov 11] Galícia 1-0 CSA

[Nov 15] Náutico 3-1 CSA

Galícia n/p Confiança

Table
1-Galícia 11 9 1 1 31- 9 19
2-CSA 12 6 2 4 22-17 14
----------------------------------------
3-Náutico 12 5 2 5 16-14 12
4-CRB 12 4 4 4 19-20 12
5-Feira 12 2 6 4 11-17 10
6-Sergipe 12 3 3 6 10-19 9
7-Confiança 11 2 2 7 13-26 6

Grupo 2

[Sep 7] Ceará 3-0 Fortaleza, ABC 2-2 América, Botafogo 3-0 Treze

[Sep 10] Fortaleza 2-0 América

[Sep 11] Sport 2-0 Botafogo

[Sep 14] Ceara 1-0 ABC, Botafogo 2-0 América, Treze 1-1 Sport

[Sep 17] ABC 0-0 Sport, Treze 2-2 América

[Sep 21] Fortaleza 2-1 Sport, América 2-2 Ceará, Treze 2-2 ABC

[Sep 24] Ceará 2-0 Sport, Botafogo 0-1 ABC

[Sep 28] América 2-3 Sport, Treze 0-3 Fortaleza

[Oct 1] Botafogo 3-0 Fortaleza, Treze 1-3 Ceará

[Oct 5] Botafogo 1-2 Ceará

[Oct 8] ABC 2-1 Fortaleza

[Oct 12] América 1-0 ABC, Botafogo 1-3 Sport

[Oct 15] América 1-1 Fortaleza, Treze 3-2 Botafogo

[Oct 18] Sport 2-2 Treze

[Oct 19] Fortaleza 1-0 ABC, América 3-1 Botafogo

[Oct 21] Sport 1-0 América

[Oct 22] ABC 1-0 Ceará

[Oct 25] Sport 2-1 ABC

[Oct 26] Fortaleza 4-2 Botafogo, América 3-1 Treze

[Oct 29] Ceará 3-2 Botafogo, ABC 1-0 Treze

[Nov 2] Ceará 2-0 América, ABC 4-1 Botafogo, Sport 2-0 Fortaleza

[Nov 8] Sport 0-2 Ceará

[Nov 9] Fortaleza 1-1 Ceará

[Nov 12] Ceará 1-1 Treze

[Nov 16] Ceará 0-0 Fortaleza

Tabela
1-Sport 12 8 3 1 21- 8 19
2-Ceará 12 6 3 3 17-13 15
----------------------------------------
3-Fortaleza 12 5 3 4 15-15 13
4-ABC 12 5 3 4 14-11 13
5-América 12 3 4 5 16-19 10
6-Treze 12 1 6 5 14-24 8
7-Botafogo 12 3 0 9 18-25 6

Fase Final

[Nov 19] Ceará 2-0 Sport, CSA 0-0 Galícia

[Nov 23] Ceará 3-0 CSA, Sport 0-0 Galícia

[Nov 26] Ceará 1-1 Galícia, Sport 1-2 CSA

[Nov 30] Sport 2-2 Ceará, Galícia 1-0 CSA

[Dec 3] CSA 1-1 Sport, Galícia 2-2 Ceará

[Dec 7] CSA 2-0 Ceará, Galícia 0-0 Sport

1-Ceará 6 2 3 1 10- 7 7
----------------------------------------
2-Galícia 6 1 5 0 4- 3 7
3-CSA 6 2 2 2 5- 6 6
4-Sport 6 0 4 2 4- 7 4


DECISÃO

[Dec 17] Remo 2-1 Ceará

[Dec 19] Ceará 3-2 Remo

[Dec 21] Ceará 3-0 Remo

Ceará SC Campeão da Copa Norte-Nordeste de 1969

Fontes: RSSF Brasil - http://paginas.terra.com.br/esporte/rsssfbrasil/tables/nne1969.htm
Jornal O Povo – Fortaleza/CE – 23/12/2007
Ceará um retrato em preto e branco. Lucio Chaves Holanda, Expressão Gráfica,Fortaleza/2004.

Memória do Futebol Cearense - Maguary

O clube dos principes.

Aristocrático, imponente e glorioso. Confira a trajetória do Sport Club Maguary, o Clube dos Príncipes, o mais nobre dos times cearenses.



O futebol cearense já teve sangue-azul. Por quase vinte anos, entre as décadas de 1920 e 1940, o aristocrático Sport Club Maguary, conhecido como o “Clube dos Príncipes”, figurou entre as principais forças do esporte no Estado. A trajetória do principado pelo gramados teve os ingredientes inerentes à história de qualquer dinastia - ao mesmo tempo que gloriosa, foi bastante conturbada.
A fase dourada do Maguary teve ares de conto de fada, como nos clássicos de príncipes e princesas.
Criado em 1925, pela família Barbosa Freitas, o clube reunia boa parte da elite fortalezense em sua primeira sede, no bairro do Alagadiço (hoje São Gerardo). O futebol era praticado pelos jovens associados, uma inovação, já que o esporte tinha a pecha de marginal. A primeira competição oficial foi o Estadual de 1927. Vestidos de branco, com uma listra preta horizontal na altura do peito, os atletas ganharam o apelido de cintanegrinos. Contudo, o Maguary não demorou muito para passar a ser conhecido pelo nome que o consagrou nos gramados: Clube dos Príncipes. “Naquela época não havia o profissionalismo. Então, como era o time dos jovens da classe média alta, eles ficaram sendo chamados de príncipes”, aponta José Leite Jucá, último presidente do clube.
Também não custou para o Maguary agregar simpatizantes de todas as classes sociais.
Na década de 40, rivalizava com o Ceará em torcida – Fortaleza e Ferroviário vinham bem atrás no apelo popular. O crescimento dos cintanegrinos veio associado aos títulos. O clube disputou o Cearense entre 1927 e 1945, vencendo quatro edições (1929, 1936, 1943 e 1944) e levando sete vices-campeonatos. Possuiu ainda o artilheiro estadual em cinco edições.
Fim de era. Assim como nos contos de fada, quando tudo parecia tranqüilo, a situação virou para o Maguary. Após conquistar o bicampeonato em 43/44, entrou como favorito para o campeonato de 1945.
Mas perdeu o tri por um ponto para o Ferroviário. A derrota doeu nos príncipes, que deixaram o futebol ainda naquele ano, em meio à crise financeira e às brigas com a ADC (Associação Desportiva Cearense. Os esforços e recursos do clube foram revertidos para a construção da sede social que o Maguary possuiu na Rua Barão do Rio Branco (hoje pertencente à Coelce – Companhia de Eletricidade do Ceará).
Nos anos seguintes o clube continuou sua vida social, ensaiando uma volta, efêmera, aos campos, em 1972, com o nome de Maguari Esporte Clube. Não deu certo e o Maguary fechou as portas em 1975. Como a própria história do Clube dos Príncipes tratou de mostrar, em algumas situações, quem foi rei perde sim a majestade.



CURIOSIDADES

O escritor e pesquisador Airton Fontenele lembra que uma das principais passagens do Maguary foi a vitória sobre o Bahia, na temporada de amistosos que os tricolores realizaram no Ceará em 1939. No ano anterior, os baianos sairam invictos da excursão ao Estado, vencendo os cinco jogos disputados.
Porém, em 39, perderam a invencibilidade na derrota por 4 a 2 para os “Príncipes”.
“Foi um acontecimento para a época”, assegura Airton.

Em “A Verdadeira História do Futebol Cearense – 1903 a 1955”, Frederico Maia aponta os motivos para o fechamento do futebol do Maguary em 45. “Tendo em vista as grandes despesas realizadas com seu quadro de futebol, não compensadas com as rendas do Campeonato, o afastamento do seu dinâmico presidente Egberto de Paula Rodrigues, que ingressava na política, e, especialmente, a construção de sua sede social, onde despenderia vultosa soma de dinheiro, resolveu a Diretoria do Maguari abandonar as atividades futebolísticas, afastando- se em definitivo da FCD (Federação Cearense de Desportos)”.



De “maillot”

No Clube dos Príncipes também havia lugar para uma princesa. Eleita Miss Brasil em 1955, a cearense Emília Correia Lima (foto) fazia parte do quadro social do aristocrático Maguary.
Sua vitória na disputa nacional foi tão celebrada quanto os títulos dos cintanegrinos.
O POVO registrou o feito no dia 10 de julho daquele ano. “Verdadeira multidão comprimiu-se, no teatro do Hotel Quitandinha, Petrópolis-RJ, para assistir à seleção das 19 beldades, candidatas ao título máximo, e que desfilaram, primeiro, em traje de “soirée” e depois de “maillot” (…) Já pela madrugada, foi anunciado o resultado: Miss Ceará, Emília Barreto Correia Lima, vencera o certame”.
Além da vida social, o Maguary se destacou pelos outros esportes. A equipe foi campeã estadual de basquete, na década de 50, e também disputou competições oficiais de voleibol e futebol de salão.


Maguary e Ceará durante o Torneio Início de 1927.


PERFIL DO MAGUARY


Nome: Sport Club Maguary
Apelidos: Clube dos Príncipes e Cintanegrino
Data de fundação: 24.6.1925
Data de extinção: 14.8.1975
Estaduais disputados: 23 ao todo. De 1927 a 1945, e de 1972 a 1975 (com o nome Maguari Esporte Clube – vide distintivo acima)
Títulos: Quatro vezes campeão cearense (1929, 1936, 1943 e 1944). Quatro vezes vencedor do Torneio Início (1929, 1942, 1944 e 1945).
Artilheiros: Barroso (1929 - 10 gols), Mundico (1936 - 9 gols), Luizinho (1939 – 19 gols), Ubaldo (1944 - 12 gols) e Jombrega (1945 - 8 gols).
Principais jogadores: Osiris, Jombrega, Henrique, Luizinho, Coronel, entre outros.

Resumo dos campeonatos conquistados pelo Maguary:

1929

01º Sport Club Maguari - Fortaleza
02º Fortaleza Esporte Clube - Fortaleza
03º Guarany Foot-ball Club - Fortaleza
04º Sport Club Fluminense - Fortaleza
05º Ceará Sporting Club - Fortaleza
06º Associação Atlética Foot-ball Club - Fortaleza

Artilheiro - Barroso (Maguari) 10 gols
Obs. 1. Por não ter resolvido divergências com a ADC, o América ficou novamente de fora.
Obs. 2. O Fortaleza abandonou o campeonato no seu final, quando liderava, e após uma espera de 2 meses da ADC para sua volta, comunicou drasticamente a extinção de seu futebol. Seus jogadores e torcedores fundarão o Orion, que manteve a rivalidade com o Ceará.

1936

01º Sport Club Maguari - Fortaleza
02º Fortaleza Esporte Clube - Fortaleza
03º Ceará Sporting Club - Fortaleza
04º Peñarol Sport Club - Fortaleza
05º Paissandu Sport Club - Fortaleza

Artilheiro - Mundico (Maguari) 9 gols
Obs.1. Houve uma grande cisão, com os clubes América (último campeão), Duque de Caxias, Flamengo e Argentino brigando e tentando a fundação de outra associação. Os clubes restantes ficaram e fizeram o campeonato, reforçados pelos estreantes Paissandu e Peñarol.
Obs.2. Pela primeira vez, os jogos são realizados em 90 minutos. (antes eram 2 tempos de 40 minutos).

1943

01º Sport Club Maguari - Fortaleza
02º Ceará Sporting Club - Fortaleza
03º Ferroviário Atlético Clube - Fortaleza
04º Fortaleza Esporte Clube - Fortaleza
05º Fluminense Foot-ball Club - Fortaleza
06º Peñarol Sport Club - Fortaleza
07º Tramways Sport Club - Fortaleza

Artilheiros - Pirão (Ceará) e Mário Negrin (Ferroviário) 8 gols
Obs.1. Campeão invicto; 9 vitórias, 1 empate, 24 gols marcados e 4 sofridos.
Obs.2. O Maguari, clube da aristocracia cearense (o clube dos príncipes), se rivalizava com o Ceará em termos de torcida. Muito atrás vinham o Ferroviário (apoiado pela Rede Ferroviária e seus funcionários) e depois o Fortaleza.

1º Turno
28/03/43 Maguary 2-1 Ferroviário-CE
04/04/43 Ceará 5-1 Fortaleza
11/04/43 Ferroviário-CE 11-1 Fluminense FC-CE
18/04/43 Maguary 1-0 Ceará
21/04/43 Fortaleza 8-1 Fluminense FC-CE
02/05/43 Ceará 4-3 Ferroviário-CE
09/05/43 Maguary 2-1 Fortaleza
16/05/43 Ceará 6-0 Fluminense FC-CE
23/05/43 Ferroviário-CE 3-1 Fortaleza
30/05/43 Maguary 5-0 Fluminense FC-CE

P J V E D GF GC SG
1. Maguary 8 4 4 0 0 10 2 8
——————————————————–
2. Ceará 6 4 3 0 1 15 5 10
3. Ferroviário-CE 4 4 2 0 2 18 8 10
4. Fortaleza 2 4 1 0 3 11 11 0
——————————————————–
5. Fluminense FC-CE 0 4 0 0 4 2 30 -28

Obs. Maguary qualificado para a final

2º Turno
06/06/43 Maguary 1-0 Fortaleza
13/06/43 Fortaleza 1-0 Ceará
20/06/43 Maguary 4-1 Ferroviário-CE
27/06/43 Ceará 8-1 Ferroviário-CE
04/07/43 Ferroviário-CE 4-1 Fortaleza
11/07/43 Maguary 1-0 Ceará

P J V E D GF GC SG
1. Maguary 6 3 3 0 0 6 1 5
——————————————————–
2. Ceará 2 3 1 0 2 8 3 5
3. Fortaleza 2 3 1 0 2 2 5 -3
4. Ferroviário-CE 2 3 1 0 2 6 13 -7

3º Turno
18/07/43 Ceará 3-0 Ferroviário-CE
25/07/43 Maguary 5-1 Fortaleza
01/08/43 Ceará 2-0 Fortaleza
08/08/43 Maguary 3-0 Ferroviário-CE
15/08/43 Ferroviário-CE 6-2 Fortaleza
22/08/43 Maguary 0-0 Ceará

P J V E D GF GC SG
1. Maguary 5 3 2 1 0 8 1 7
——————————————————–
2. Ceará 5 3 2 1 0 5 0 5
3. Ferroviário-CE 2 3 1 0 2 6 8 -2
4. Fortaleza 0 3 0 0 3 3 13 -10

1944

01º Sport Club Maguari - Fortaleza
02º Fortaleza Esporte Clube - Fortaleza
03º Ferroviário Atlético Clube - Fortaleza
04º Luso Futebol Clube - Fortaleza
05º Ceará Sporting Club - Fortaleza
06º Peñarol Sport Club - Fortaleza

Artilheiro - Ubaldo (Maguari) 12 gols
Obs.1. O Peñarol abandonou a disputa ao final do turno. O Ceará pediu liçença no meio do returno, alegando proteção ao Maguari. Os 2 foram suspensos por 1 ano.
Obs.2. Campeão invicto; 9 vitórias, 50 gols marcados e 11 sofridos.

1º Turno
04/06/44 Maguary 8-3 Luso-CE
08/06/44 Fortaleza 2-2 Peñarol-CE
11/06/44 Ceará 4-1 Ferroviário-CE
15/06/44 Maguary 8-0 Peñarol-CE
18/06/44 Fortaleza 2-1 Ferroviário-CE
21/06/44 Ceará 7-1 Luso-CE
25/06/44 Ferroviário-CE 1-1 Luso-CE
29/06/44 Maguary 6-1 Fortaleza
02/07/44 Ceará 10-0 Peñarol-CE
06/07/44 Maguary 7-1 Ferroviário-CE
09/07/44 Luso-CE 5-2 Peñarol-CE
13/07/44 Fortaleza 3-2 Ceará
20/07/44 Maguary 6-4 Ceará
23/07/44 Luso-CE 4-3 Fortaleza

P J V E D GF GC SG
1. Maguary 10 5 5 0 0 35 9 26
——————————————————–
2. Ceará 6 5 3 0 2 27 11 16
3. Fortaleza 5 5 2 1 2 11 15 -4
4. Luso-CE 5 5 2 1 2 14 21 -7
5. Ferroviário-CE 1 4 0 1 3 4 14 -10
——————————————————–
6. Peñarol-CE 1 4 0 1 3 4 25 -21

2º Turno
30/07/44 Ceará 5-2 Luso-CE
06/08/44 Ferroviário-CE 5-2 Fortaleza
13/08/44 Maguary 2-1 Ceará
20/08/44 Maguary 6-1 Ferroviário-CE
27/08/44 Fortaleza 4-2 Luso-CE
03/09/44 Ferroviário-CE 2-2 Luso-CE
07/09/44 Maguary 3-0 Fortaleza
10/09/44 Maguary 4-0 Luso-CE

P J V E D GF GC SG
1. Maguary 8 4 4 0 0 15 2 13
——————————————————–
2. Ferroviário-CE 3 3 1 1 1 8 10 -2
3. Ceará 2 2 1 0 1 6 4 2
4. Fortaleza 2 3 1 0 2 6 10 -4
5. Luso-CE 1 4 0 1 3 6 15 -9

Fontes: Jornal O Povo – Fortaleza/CE

Blog – História do Futebol - http://blog.soccerlogos.com.br/

RSSSF Brasil - http://paginas.terra.com.br/esporte/rsssfbrasil/

Memória do Futebol Cearense - Orion


Um dos poucos registros da formação do Orion campeão cearense em 1930. Time existiu por apenas três anos, mas levou um Estadual e dois torneios início(Foto: Arquivo Nirez)

Uma constelação iluminou o futebol cearense nos nebulosos anos de 1930. De trajetória bela e também turbulenta, o Orion Futebol Clube atravessou os gramados locais com a rapidez de um cometa. Foram três anos marcados por títulos e confusões. Pouco tempo, mas o suficiente para deixar registrado o nome do time da constelação em lugar especial na memória do futebol cearense.

A gênese do Orion ilustra com clareza a inquietude que a equipe trouxe para o futebol cearense. O clube nasceu em 1929, a partir da dissidência de jogadores do Fortaleza, então tricampeão cearense. O Tricolor extinguiu o departamento de futebol quando liderava o Estadual, em 6 de agosto - alegando dificuldades financeiras e descontentamento com o julgamento de protestos do clube pela Associação Desportiva Cearense (ADC). Pesou na decisão ainda os atritos entre atletas e diretoria.

Eram tempos de amadorismo, em que os vínculos dos clubes com os jogadores pareciam tão frágeis quanto o grau de organização da ADC. Liderados pelos irmãos Machado (Moacir, Jandir, Juraci e Caranã) os tricolores preferiram criar uma nova agremiação a aderir a uma das existentes. Nas cores preta e branca, o Orion começou a disputar partidas amistosas ainda em 1929. O título do ano, que estava nas mãos do Fortaleza, acabou com o Maguary.

Só que a estrela do Orion logo mostrou seu brilho. O time venceu com facilidade o Torneio Início de 1930. Manteve o favoritismo no Campeonato Cearense, levando o título e dando o troco no Maguary, desta vez vice-campeão. A campanha teve ainda outro ingrediente - com 11 gols anotados, o atacante Zezé foi o artilheiro do campeonato.

Derrocada

Mas aí uma espécie de buraco-negro engoliu o Orion. Em 1931, o time voltou a ganhar o Torneio Início e seguia rumo ao bicampeonato, liderando o Estadual até a última rodada, quando enfrentaria o Ceará, segundo colocado, um ponto atrás. A decisão foi marcada pela ADC para a mesma semana em que o time chegara de excursão pelo Interior. Apesar dos pedidos de adiamento por parte do Orion, a ADC manteve a data da final. Em sinal de protesto, o time não entrou em campo - o título ficou com o Ceará.

O sucesso alcançado pelo Orion fez com que o Fortaleza "repatriasse" parte dos atletas dissidentes em 1929 e retomasse as disputas em 1932. O Orion ainda participou do Estadual daquele ano, mas, desfigurado, e ainda sentindo-se prejudicado pela ADC, acabou pedindo desligamento da entidade, fechando as portas antes do fim da competição. Era o último brilho da constelação alvinegra em campos cearenses.

ORION FC.

Fundação: outubro de 1929
Extinção: 1932
Cores: Preta e branca
Estaduais disputados: 1930, 1931 e 1932
Títulos: 1 Cearense (1930); 2 Torneio Início (1930 e 1931)
Artilheiro: Zezé (1930, com 11 gols)

NÚMEROS

3 títulos
conquistou o Orion nos três anos de existência do clube - o Estadual de 1930 e o Torneio Início de 1930 e 1931

11 gols
anotou o atacante Zezé, do Orion, na campanha do título de 1930. Ele é o único artilheiro do time em disputas de estaduais

E-MAIS

A diretoria do Orion chegou a publicar nota na imprensa alertando aos torcedores a opção do clube em não disputar a decisão do Estadual de 1931 na data marcada pela ADC. "O Orion Sport Clube, devidamente autorizado pela sua diretoria, avisa ao público em geral que não tomará parte no match de futebol anunciado, conforme comunicação feita em sessão da A.D.C, pelo seu representante, sr. Armando Maramaldo". Conforme o pesquisador Nirez de Azevedo no livro História do Campeonato Cearense de Futebol, o texto foi publicado no jornal O Nordeste, em 23 de outubro de 1931.

Mesmo tendo abandonado o Estadual de 1929, o Fortaleza foi considerado o vice-campeão do ano. Os demais clubes exigiram a perda de todos os pontos conquistados pelo Tricolor - como era praxe em casos de abandono. A ADC preferiu manter a pontuação leonina.

No anos 1930, as trapalhadas da ADC eram tantas que os clubes e a imprensa passaram a se referir à entidade como " A Madastra", conforme afirma o pesquisador Alberto Damasceno.

O atacante Teopisto, que defendeu o Ceará na perda do título de 1930 para o Orion, foi o árbitro dos 16 a 0 do Alvinegro sobre os ingleses do Sussex Trader, tema da série Memória do Futebol do último domingo.

Os registros oficiais da Federação Cearense de Futebol registram o nome do time da constelação como Orion Futebol Clube. Contudo, alguns livros históricos apresentam o time como Orion Sporting Club.

Orion é o nome de uma constelação equatorial formada de estrelas brilhantes, três das quais as conhecidas "Três Marias".

O Campeonato Cearense de 1930, vencido pelo Orion, foi, provavelmente, o mais desmotivado da história da competição. Apenas quatro times iniciaram a disputa, em 16 de março daquele ano: os rivais Ceará e Maguary; o novato Orion, substituindo o Fortaleza; e o pouco expressivo Fluminense. Dois times que participaram do Estadual de 1929 paralisaram as atividades pouco antes do início do campeonato: o Atlética e o Guarany (da capital, não o de Sobral).

Com apenas quatro clubes, a edição de 1930 divide a marca de Estadual com menor número de competidores com a primeira disputa do Cearense - em 1920, Fortaleza, Ceará, Bangu e Guarany entraram em campo. Porém, um detalhe depõe contra a edição vencida pelo Orion; o Fluminense abandonou a disputa ainda no primeiro dos dois turnos, reduzindo a briga pelo título a um triangular.

O campeonato começou em 16 de março e terminou em 12 de junho, com jogos apenas aos domingos. O Orion levou o título, com o Maguary em segundo e o Ceará em terceiro. Após o encerramento da competição os clubes resolveram paralisar as atividades no segundo semestre.

Ficha técnica da decisão do estadual de 1930.

ORION 2
Oto; Preto e Orestes; Basílio, Caranã e Santana; Guarany, Jurandir, Zezé, Juracy e Pirão.
CEARÁ 1
Pintado; Liberato e Bebê; Teopisto, Viana e Arthur; Afonso, Hildebrando, Farnun, Peixe e Zé Maria.

Local: Campo do Prado (onde hoje fica o Centro Federal de Ensino Tecnológico-Cefet)
Data: 1.6.1930
Árbitro: Arthur Salgado
Público: livre acesso
Renda: não se cobrava
Gols: Juracy e Pirão (Orion); Farnun (Ceará)


Fonte: Jornal O Povo